domingo, 19 de fevereiro de 2012

A reacção em Gouveia


O que se disse aqui ontem a propósito de António José Seguro aplica-se, com mais propriedade ainda, ao ocorrido em Gouveia com Pedro Passos Coelho. As pessoas perceberam o essencial. O papel das elites políticas é roubar-lhes qualquer espécie de ilusão sobre o futuro, extinguir qualquer resíduo de esperança. O que difere Seguro de Coelho é apenas o sentimento com que encaram o seu papel. Seguro faria a mesma política mas sentiria imensa pena, e falaria com ar contrito aos portugueses. Coelho acredita no que está a fazer, acha mesmo que as classes médias e os trabalhadores devem ser reduzidos à condição de uma multidão de indiferenciados, e fala com ar inchado de um justiceiro. A reacção em Gouveia, mais que os apupos a Cavaco em Guimarães, abre um novo patamar de oposição aos desígnios do governo. Por este andar, Passos Coelho vai rezar para que o senhor Arménio Carlos e a CGTP ponham mão no assunto. O principal perigo para a governação de Passos Coelho não virá das zonas onde o Partido Comunista tem influência. Virá mesmo do lugar onde o PSD manda, virá do desespero daqueles que acreditaram nas mentiras que Passos Coelho teve necessidade de dizer para ser eleito. Contrariamente ao que muitos crêem, eu não acredito que sejamos um povo de brandos costumes. O século XIX e o primeiro quartel do XX estão aí para o mostrar. O desespero em que as pessoas estão a ser lançadas não promete nada de bom.

4 comentários:

  1. E, no entanto, no meio da multidão que o apupava, ele sorria. Manteve o ar afável, o ar de igual aos que protestam, 'também ele queria que as coisas estivessem melhores', e sorria contristado. Pessoas assim são perigosas como uma vez já aqui o referiu.

    E até acho que ele estava em estado de empatia com as pessoas, e até sou capaz de achar que ele ache que está a fazer o que deve ser feito. Estou, aliás, em crer que ali é mesmo apenas um caso de ignorância, talvez até de ignorância inocente, um caso de incompetência e mais nada. Acho eu (mas não estou totalmente certa, ainda não consegui perceber bem).

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  2. Creio que ele acredita no que está a fazer, mas julgo que a empatia é estratégica. Julgo que a tese é que não há lugar para a maioria das pessoas a não ser em níveis muito baixos da escala social. Duvido que seja um caso de incompetência. É competente no que está a fazer. O desemprego tem subido, a destruição das classes médias avança, a precariedade do trabalho aumentou drasticamente. Tudo feito de forma competente. Para alguns, claro. Ele mentiu deliberadamente nas eleições, para poder lançar este programa.

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  3. Pois eu, meu Caro, não consigo estar certa disso. Acho que o tem em demasiada boa conta.

    Cá para mim, acho que tudo isso acontece sem que ele perceba porquê. Deve achar que é má sorte, que a culpa é 'lá de fora', não deve conseguir entender, enquanto bate umas claras para fazer umas farófias deve debater o assunto com a sua 'esposa' que também deve achar que a culpa não é dele, que o deve aconselhar a ir falar com o Ângelo Correia, que é pessoa entendida. Cá para mim as coisas devem ser muito 'nesta base'. Um perigo.

    É que, se fosse consciente, ainda podia emendar a mão, ainda podia tentar corrigir a rota. Agora assim...

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    1. Consciente não significa inteligente. Ele executa uma cartilha. Alguém a sopra, claro. Provavelmente, o Vítor Gaspar ou o Ângelo Correia. Ele não se acha culpado, claro, pois crê que apenas cumpre um desígnio, e esse desígnio passa, independentemente da situação internacional, pelo que está a fazer, pela destruição da intervenção do Estado nos sectores onde tem tido acção, etc. Não o acho inteligente, mas também não o acho inocente. Ele quer o que está a acontecer, quer até pior. Mas é apenas um ponto de vista.

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