segunda-feira, 7 de maio de 2012

Tragédia grega

AFP/LOUISE GOULIAMAKI via Le Monde.

A Grécia é o exemplo acabado de como a receita liberal não funciona em todo o lado. É certo que o PASOK não se recomenda e a Nova Democracia ainda menos. É certo que a sociedade grega vivia completamente fora da realidade. A verdade, porém, é que foram as políticas ordoliberais da União Europeia que geraram a situação que a Grécia vive. Não é impunemente que se desfaz o pacto social-democrata que governou a Europa e que atraiu para ela os países periféricos, como a Grécia ou Portugal. O grande problema, porém, foi lidar com a questão grega, bem como a portuguesa, do ponto de vista moral e não político. As potências económicas protestantes europeias, com a Alemanha à cabeça e a cumplicidade de Sarkozy, substituíram a visão política do problema pela moralidade evangélica, lançando um anátema sobre os povos do sul não protestantes.

O resultado tem sido notável (Público). Na Grécia, então, não poderia ser mais esclarecedor da falta de visão política. Com os resultados de ontem, onde os partidos do centro e pró-austeridade conseguiram apenas 149 deputados em 300, apesar do partido com mais votos, a Nova Democracia, ter recebido um bónus de 50 deputados, o sistema político grego está à beira da implosão. Não apenas a esquerda radical do Syriza é a segunda força política, como a extrema-direita (para observar o aspecto ver foto) xenófoba vale 7% e 21 deputados, quando em 2009 valia 0,29%. Nunca como agora a democracia grega está nas mãos da Europa. A saída do euro e da União Europeia será um passo a caminho de uma ditadura militar. O crescimento dos extremos, a situação desesperada de muitos gregos, a volatilidade da situação económica são condimentos para a passagem do confronto parlamentar para o de rua. Se isso acontecer, restarão as forças armadas para evitar a desagregação e uma nova guerra civil.

Isto é o que dá quando a estultícia, o moralismo e, o mais grave de tudo, o cálculo financeiro e os interesses económicos da elite financeira mundial se sobrepõem à sabedoria política, ao conhecimento da História e ao bom-senso que procura soluções equilibradas. Impotentes, assistimos no anfiteatro global a uma verdadeira tragédia grega. Só não sabemos até onde se podem propagar as chamas.

2 comentários:

  1. Pois é...algures, sob os céus de Paris, luzirá talvez uma estrela de esperança com a introdução de um novo dado que já está a agitar as águas, a vitória, sim, porque é uma vitória, por mais que alguma imprensa a queira camuflar com o véu de «a derrota de Sarkozy» de François Hollande. Na verdade, no fundo todos já sabem que a «receita» grega não funciona. Não foi preciso o suicídio na praça Syntagma. Sabe-se que há já pelo menos centenas de casos de suicídio na UE por causa da austeridade germânica. Isto vai mudar.

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    1. Alguma coisa mudará. O problema, porém, é que o controlo da economia já não está no Estado-Nação, nem sequer na União Europeia. Mesmo esta vai acabar por ficar dividida. O problema não é só a Alemanha. Países como a Finlândia e a Holanda não me parecem muito desejosos de suportar as políticas de Hollande. Veremos.

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