domingo, 8 de julho de 2012

Um ódio de estimação

Salvador Dali - El corazón oculto (1932)

A previsibilidade de Passos Coelho chega a ser entediante. Quem tenha estudado um pouquinho da psicologia de Pavlov não terá dificuldade em antecipar a reacção do nosso infeliz primeiro-ministro a uma qualquer contrariedade. A ideologia condiciona-o de tal maneira que sai-lhe pela boca fora aquilo que lhe enche o coração. Perante o extraordinário acórdão do Tribunal Constitucional, que declara a inconstitucionalidade (melhor, a inconstitucionalidade intermitente) dos cortes dos subsídios na função pública, a sua reacção foi ameaçar com mais cortes os sistemas de saúde e de educação. É aí que lhe dói o coração. Para que precisa a plebe indiferenciada de cuidados de saúde decentes ou de uma educação para os seus filhos com um módico de dignidade? Essa imensa mole de preguiçosos, essa gentalha que não é animada pelo espírito de empreendedorismo, nem sequer tem os filhos nas juventudes dos grandes partidos (aquelas que dão muita experiência profissional e um currículo exemplar), tem de pagar o desplante do Tribunal Constitucional. Passos Coelho parece um evangelista a quem a certeza da fé dispensa o pensamento. Entre o coração e a boca não há espaço algum para pensar o que se diz.

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