segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A cigarra pueril

Bartolomé Esteban Murillo - Niños jugando a los dados (1670-1675)


Não há nada mais revelador sobre o horizonte de um político do que a hora em que ele pretende ser edificante. Ontem, Miguel Macedo teve o seu momento de pregador evangélico: "um país de muitas cigarras e poucas formigas". Para além do carácter insultuoso contido na prédica, ainda por cima num país em que gente como Miguel Macedo tem destruído, por via das opções políticas, a vida de muitas pessoas, é notável o recurso a uma fábula infantil. As fábulas para crianças possuem, certamente, propriedades que as tornam mecanismos que permitem a interiorização do senso comum corrente. Mas o valor de uma fábula depende do contexto em que ela é utilizada. Se é um adulto que fala a uma criança, a fábula revela a intenção do adulto em fazer crescer aquele que ainda não o é. Se é um adulto que a aplica a outros adultos, ou a um povo, não apenas é um insulto - o que poderá haver de mais insultuoso do que tratar um povo como um bando de crianças? - como revela o carácter pueril de quem assim moraliza. O nível de reflexão moral não ultrapassa as pequenas histórias ouvidas na infância. É a este tipo de gente que Portugal está entregue. Pior que uma cigarra que passa a vida a cantar é a cigarra que nem cantar sabe.

2 comentários:

  1. Já tinha pensado num poste a propósito, mas após ter passado por aqui, decidi-me, e também glosei o tema.
    Quando se trata de gente deste quilate há que trabalhar como as formigas e cantar(-lhes) como as cigarras sem contemplações.

    Abraço

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.