segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Refundações e reavaliações

André Masson - El convento de los capuchinos en Céret (1919)

Quando, no outro dia, Passos Coelho falou de refundação, muita gente gozou com a palavra e com a expressão. Contrariamente ao que é habitual, levei Passos Coelho a sério. Estava a falar claro sobre aquilo a que veio. Toda a sua política, para além das contingências da dívida, tem um fim claro, e ele agora foi enunciado. A refundação é, em primeiro lugar, uma reavaliação das funções do Estado. Não pense o leitor que reavaliação significa evitar que o Estado interfira na economia favorecendo empresas privadas, nacionalizando bancos falidos e outras malfeitorias do género. Reavaliar as funções do Estado significa encontrar uma estratégia que permita acabar com o Sistema Nacional de Saúde, a Escola Pública e a protecção social. Significa como tornar os pobres mais pobres e encontrar nichos de mercado para uma certa casta de empresários nacionais incompetente e incapaz de competir. O problema é o de como entregar, a essa gente e de forma lucrativa (para o Estado e para os empreendedores), essas funções sociais. Todos sabemos o que os privados farão com o dinheiro que o Estado lhes porá nas mãos. Não será preciso descrever o cenário dantesco que o primeiro ministro sonha com a sua reavaliação mais a sua refundação. Muitos dos que têm servido de forma honrada o Estado e a comunidade bem podem começar a procurar um convento que os acolha.

4 comentários:

  1. O desenho de um mundo cada vez menos humano e cada vez mais bestial, começa a ser revelado sem véus.
    Nunca fui de opinião que estes governantes actuais fossem desajeitados ou trapalhões, são hábeis na sua trama negra, e têm vindo a preparar o tear com uma precisão de aranha.
    As recentes notícias sobre o custo por aluno no ensino público e no ensino privado, são uma clara demonstração desta falsa inabilidade, atiram-se uns dados falsos, gerando na opinião pública uma ideia e mesmo que depois os dados sejam corrigidos, a imagem de despesismo do sistema público já foi instalada no consciente colectivo.
    Somos chamados como comunidade a declarar que sociedade e com que valores pretendemos construir, se nos demitirmos, refundam-nos.

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    1. A ideia é mesmo essa. Se não nos acautelarmos eles refundem-nos e refundam-nos, para não pensar noutras coisas, para as quais a governança está ávida.

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  2. Quanto a mim, o discípulo Coelho bebeu esta da "refundação", do seu mentor Ângelo Correia. Está na cara. Ainda ontem se percebeu isso num frente a frente, quando este falou em eufemismos.
    O grave é que, como diria Goethe: Nada é mais terrível do que a ignorância activa. E o 1º ministro é um perigoso ignorante.

    Abraço

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    1. Um perigoso e activo ignorante. Mas a sua ignorância é meramente relativa. Há coisas que ele sabe bem. Sabem bem, por exemplo, a quem serve. E nunca se engana nos alvos que quer atingir.

      Abraço

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