terça-feira, 9 de abril de 2013

Poema 57 - A solidão que desce ao meio-dia abre-se

Edward Hopper - Meio-dia (1949)

57. A solidão que desce ao meio-dia abre-se

A solidão que desce ao meio-dia abre-se
como um segredo há muito esquecido
trazido à memória por um súbito acaso,
assombração antiga de um tempo que passou.

O sol oscila quieto sobre a ruína da manhã
e deixa que, esplêndido, o teu corpo se ofereça
no sobressalto de um desejo,
no calor aceso pelo silêncio da hora.

Ó terra nua apavorada pelo estio,
requiem luminoso e transitório perdido
entre as estalactites que o delírio faz nascer
nessas mãos de mármore e calcário.

Trago em mim cada meio-dia vivido,
pobres fantasmas a arder esquecidos num sótão,
onde ninguém vai para lhes levar comida
e o júbilo de um instante fugidio de vida.

Rememoro o astro suspenso sobre o mundo,
os raios incandescente de angústia,
luz solar presa nos seios que me ofereces,
água tão pura e virginal em minha boca.

3 comentários:

  1. Muito bom! Só nao gostei da estrofe dos estalactites...

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  2. Lindíssimo poema!
    As mãos como um tecto deixam escorrer a memória do tacto.

    Um abraço

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