segunda-feira, 6 de maio de 2013

Uma sociedade doente

Francisco de Goya - Esto es malo (1863)

Evito falar sobre questões criminais. Por isso, não queria escrever sobre o assassinato de um estudante no Porto, durante um assalto que visava roubar o dinheiro da queima das fitas. Mas ao ver uma reportagem televisiva, há pouco, sobre o assunto houve qualquer coisa que me alarmou profundamente. Duas notas sobre um crime sem qualificação.

1. A violência e o puro desprezo pela vida por parte dos assaltantes são sintomáticos da crise de valores a que se chegou. Independentemente de serem amadores ou profissionais, os criminosos abateram pelas costas alguém que fugia. Mesmo no crime há graus diferenciados de respeito pela vida do outro. Este crime é chocante porque mostra que, em Portugal, já se ultrapassou uma fronteira e que os brandos costumes não são assim tão brandos.

2. Não menos chocantes, porém, foram, para mim, as declarações de alguns estudantes ouvidos. Lamentavam muito a morte do colega, mas a vida continua e o pessoal tem que se divertir. Além disso, está muito dinheiro em jogo e não faz sentido suspender a queima das fitas. Ouvi isto. E isto mostra que Portugal bateu no fundo, que as novas gerações estão já imbuídas de um hedonismo e de uma indiferença inaceitáveis. A educação falhou e a nossa sociedade está muito doente.

8 comentários:

  1. Fiquei estupefacto, apesar de o sobressalto já se ter tornado um hábito de vida.
    Tudo isto é Kafkiano.
    Há doenças que matam...

    Abraço

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    1. A partir dos anos 80 (83 - 84) começou a surgir nas universidades um novo espírito. E esse novo espírito deu nisto. A coisa começou com bênçãos de pastas, depois incorporou as praxes e as queimas. A tudo isto há que adicionar o espírito "empreendedor" do tempo. O resultado é este. É com esta massa que se fazem os actuais governantes.

      Abraço

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  2. Não sei se não será também influência de tantos filmes e séries e jogos de computador com mortes, perseguições, tiros, pancada. Desde crianças que assistem a uma banalização da violência fortuita.

    Não sei. Tudo isto é verdadeiramente chocante. E estes jovens também não votam, grande parte deles nem vai recensear-se. Estão desinteressados em relação aos valores básicos da cidadania.

    E bebem até cair para o lado. Passar em algumas ruas de Lisboa de madrugada faz uma impressão tremenda: miúdos e miúdas tudo de garrafas na mão, muitos completamente embriagados. Mesmo no Ginjal, um sítio do mais idílico que há, é normal verem-se grupos de jovens com ar muito normal e com garrafas de vinho. Mesmo casalinhos, miúdos, com uma garrafa de litro de vinho ao lado.

    Por vezes tenho muita dificuldade em perceber para onde estamos a caminhar e como foi que nos desviámos tanto do caminho.

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    1. Há muitas causas concorrentes para este estado de coisas. Há uma, porém, que passa despercebida. Chamar-lhe-ia a ideologia do "carpe diem". Transforma-se o "colhe o dia" de Horácio numa busca de excitação parola e sem sentido.

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  3. Sim, a preocupação maior desta "malta" é o divertimento, os copos, as noitadas, os prazeres. O resto, não lhes interessa. Excelente post.

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    1. Não serão todos assim, claro, mas o espírito geral é esse. E nada pior que o espírito geral.

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  4. Li o seu post, com que concordei. Entretanto hoje recebi, enviado por mão amiga, um comunicado do director da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto a lamentar o comportamento dos estudantes. Não sei se conhece e se tem interesse em ler.
    Parabéns pelos seus textos. Sou um visitante tardio mas frequente.

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    1. Eu ouvi a reacção do director da Faculdade de Desporto da UP na televisão e concordei com ela, obviamente.

      Isto não é apenas um problema dos estudantes. Somos nós, enquanto sociedade, que estamos a falhar nalguma coisa.

      Muito obrigado pelas suas visitas.

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