terça-feira, 11 de junho de 2013

O tédio da história

Honoré Daumier - A revolta (1860)

Greve dos professores em Portugal, revoltas na Turquia, a história, apesar da eterna mudança a que está sujeita, é um lugar de tédio nunca desmentido. O tédio nasce pela contínua repetição do mesmo esquema, apesar dos figurantes mudarem continuamente. Os poderosos e os destituídos de poder, os que exercem a dominação e aqueles que a sofrem. Quando o laço entre ambos se rompe, nasce a revolta. As revoltas não significam que os destituídos de poder e os que sofrem a dominação queiram tomar o poder. As revoltas nascem sempre de uma sensação de traição. Os professores portugueses sente-se, há muito, traídos pelos ministros da educação. Os turcos que protestam sentem-se traídos pelo governo que elegeram.

As revoltas, as greves, os protestos são sempre o sinal de que o poder não honrou um compromisso, um compromisso inexplícito mas conhecido pelas partes. Quando esse compromisso não escrito é honrado, as greves desaparecem, as revoltas não acontecem, o tumulto não desce às ruas. O poder, porém, nunca aprende. Cegos, os governantes julgam que vão poder submeter pela força aqueles a quem estão a trair. A verdade, porém, como a história não se cansa de mostrar, acabarão por cair, olhados com desprezo pela multidão. Passos Coelho e Nuno Crato já se esqueceram de Sócrates e de Lurdes Rodrigues? Erdogan já terá esquecido o que se passou na Líbia, na Tunísia ou no Egipto? A história é um imenso tédio: a arrogância do poder, a traição dos governantes e a revolta dos governados, dos que sofrem o arbítrio dos poderosos.

4 comentários:

  1. A História tem-se repetido, sobretudo nas coisas más.
    Fukuyama falou do fim da História com a vitória definitiva do Capitalismo (liberalismo), mas quero acreditar que, apesar de tudo, aquilo a que estamos assistir não será o fim, mas sim o "princípio" de um novo salto qualitativo.

    Abraço

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    1. Não sei se há saltos qualitativos na história. As coisas mudam, mas seremos diferentes de há 2 mil anos? O Kant acreditava no progresso moral da humanidade. Eu não consigo acreditar, embora gostasse muito. Quanto ao progresso sou, digamos, agnóstico, quase ateu.

      Abraço

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  2. Talvez que, apesar do tédio que vem da repetição, estejamos todos a ficar mais atentos, mais críticos, mais conhecedores. Penso que, com isso, virá mais exigência. Talvez.

    Mas que são tempos de grande perplexidade, lá isso são. E tempos de muita manipulação, muita intimidação.

    Vamos ver quem acaba por ceder.

    Uma vez mais aqui exprimo a minha solidariedade para com os professores. Não merecem este ataque.

    Um abraço!

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    1. Como em tudo na política, vai ceder o mais fraco. Veremos se os professores para além da força da razão têm a razão da força. Neste caso, força significa laços de união e objectivos comuns. Obrigado pela solidariedade.

      Abraço.

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