segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O fascínio da perdição

Gustav Klimt - Tragedy (1897)

O prazer proporcionado pela tragédia grega, segundo a leitura de Nietzsche, residia não apenas na grandeza do herói, uma encarnação do deus Diónisos, mas, apesar dessa grandeza, da perdição que o esperava devido ao próprio caminho que, vitorioso, ia traçando. Era na senda exuberante para a perdição que a vida se celebrava na sua completude. Há, porém, um outro prazer mais sublime e mais perigoso, porque menos exterior. É o prazer que resulta da contemplação da aproximação de algo que vai provocar a nossa própria perda. Uma conjuntura perigosa aproxima-se de nós, e nós, impotentes, olhamos fascinados - na verdade, contemplamos em êxtase - a mecânica daquilo que nos vai esmagar, a afirmação de uma potência que não é possível enfrentar e, muito menos, derrotar. Quantas vezes, na minha vida professor, já vi situações destas? O interessante destas situações é a profunda solidão daquele que vê a catástrofe aproximar-se, enquanto todos os outros se entregam, ingénuos e descuidados, à realização daquilo que os há-de - ou que nos há-de - perder.

2 comentários:

  1. É a velha atracção pelo abismo. Abeiramo-nos dele, viramos-lhe as costas e recuamos um passo.

    Um abraço

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    1. Em Portugal, somos especialistas em virar as costas ao abismo (o que não se vê não existe) para dar um passo atrás (e neste passo atrás não há qualquer intenção de dar dois à frente).

      Abraço

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