quinta-feira, 10 de julho de 2014

De caverna em caverna

Joaquín Mir - Crepúsculo

Os dias já declinam, mas a luz ainda é uma mancha que cobre a cidade, ateia incêndios nos telhados, faz resplandecer o verd’oiro das árvores. As gentes regressam a casa, abandonam a fadiga que o dia traz, escondem-se nas cavernas onde só as sombras reinam. De caverna em caverna, eis o destino que nos coube. A luz, se nos ilumina, logo fenece, para se entregar aos deuses da noite. No horizonte, manchas de sangue pontuam algumas nuvens. Caminho pela cidade na esperança do silêncio, mas os gritos invadem a tarde como se, no crepúsculo que se adivinha, chorassem o dia já entregue nos braços da morte. (averomundo: a prosa dos dias, 2007-10-17) 

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