domingo, 17 de agosto de 2014

Salvo pela palavra

Jorge Carreira Maia - My foolish world I (2014)

O que é que me salva do caos, de um caos que, apesar de eu o disfarçar continuamente, está ali já bem perto de mim, do meu corpo, da consciência que ainda me permite dizer eu? Pergunto-me, reiteradamente. E a resposta acaba por ser invariavelmente a mesma: a palavra. Só ela me permite, aqui e ali, ordenar o caos, dar sentido onde o sentido não existe, justificar o injustificável da vida. Quando olhamos demoradamente para as coisas, elas começam a perder os contornos, a desligar-se, a alienar as conexões que laboriosamente lhe atribuímos. Nessa altura, surge uma sombra - essa velha companheira de uma vida - e, assim que ela se desfaz, as infinitas sensações emergem em mim, mas sem nexo, nem relação causal, como se tudo não passasse de pontos. Sonoros, luminosos... sensações puras e singulares. Mas uma palavra chega até mim e um sentido, vindo não sei de onde, dá-me a mão, como se eu fosse um náufrago no limiar da morte.

2 comentários:

  1. Felizmente que a palavra ainda funciona como um gongo.

    Boa semana

    Abraço

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    1. A palavra é a casa que nos acolhe e introduz ordem na desordem das nossas sensações e sentimentos. É como se a palavra tivesse inventado a humanidade e não o contrário.

      Uma boa semana.

      Abraço

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