domingo, 31 de agosto de 2014

Uma sombra caminha

Jorge Carreira Maia - Auto-retrato IX (2007)

Vem um vulto pela bordadura da estrada, pisa as ervas floridas da Primavera, avança como se tivesse um destino, um fim derradeiro a mover-lhe o coração. Os carros passam e ocultam, por instantes, o fulgor daquele que caminha, mas logo a imagem retoma a existência e prossegue em movimento certo a jornada que a traz aos meus olhos. É uma estátua nítida batida pelo sol, uma figura de cera animada pela expectativa de uma meta, pela ânsia do perpétuo descanso. E ali vai o vulto, passo a passo, indiferente aos cães que uivam, à chuva que cai, ao ardor do sol, se o Verão chega. Vem, passa ao longe e eu viro-me para o ver desaparecer. É agora uma sombra e caminha e caminha e caminha, como se a estrada não tivesse fim e a sombra não mais desaguasse nas trevas da noite. (averomundo, 2008/05/26)

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