domingo, 2 de novembro de 2014

As garras do niilismo

Julio Gómez Biedma - Poder

Vale a pena consultar no Público o conjunto de casos que resultam de um aparentemente estranho mecanismo de resolução de conflitos entre Estados e investidores. Esse mecanismo é conhecido pela sigla ISDS e visa a resolução privada (sic) de conflitos entre investidores e Estados. Nem vou comentar a triste - e parece que de vanguarda (sic) - posição portuguesa, a cargo dessa nova luminária que dá pelo nome de Bruno Maçães. Quero só chamar a atenção que este mecanismo é mais um passo na destruição da tradição política que herdámos dos gregos. Na verdade, desde o século XVII, com a denominada Gloriosa Revolução, em Inglaterra, que se assiste, por vezes com recuos, a uma destruição contínua dos mecanismos políticos que representam e defendem as comunidades humanas. A Gloriosa Revolução redefiniu o papel do Estado. Este papel já não é defender e representar a comunidade mas promover o lucro dos privados. O lucro dos privados é defendido, e a História inglesa é uma testemunha central, contra os interesses da própria comunidade. A ISDS é mais um passo na estratégia global de destituição das populações de qualquer poder perante a força das multinacionais e dos interesses privados de um número muito reduzido de seres humanos. Nem vale a pena verberar a acção das elites políticas governamentais. Há muito que não querem representar as suas comunidades. São apenas agentes de interesses privados. Coisa já sobejamente conhecida no século XIX. A ISDS é mais um passo na dominação que as garras do niilismo estendem sobre o mundo ocidental. Quando tudo estiver reduzido à mera multiplicação do dinheiro talvez surja a esperança de que o mal se torne insuportável e de que, dos escombros deste mundo, nasça um mundo normal e razoável, habitável pelos seres humanos.

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