sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Brinquedos de crianças


As opiniões humanas são brinquedos de crianças. (Heraclito, fr. 70)

Por vezes é necessário voltar a tomar consciência dos limites da natureza humana. Apesar de racionais, os homens são limitados e finitos. As opiniões que emitem são o fruto dos seus desejos, interesses e medos, muito mais do que um compromisso com a verdade. Quando pretendem antecipar aquilo que o futuro irá trazer, para melhor se protegerem, balbuciam algumas profecias, que o tempo se encarrega de mostrar o ridículo. Como Heraclito  sublinhou há cerca de 2500 anos, as opiniões humanas são brinquedos de crianças.

Assistimos continuamente à emissão de opiniões sobre as quais, na verdade, temos uma limitada capacidade para relacionar com a verdade dos factos. O que vai ser o futuro da Europa e de Portugal? Perante nós temos um banco de nevoeiro. Há coisas que, todavia, sabemos. Sabemos que temos um problema na Ucrânia, que a guerra civil que por lá grassa tem potencial para infectar toda a Europa, até porque esta é parte interessada e não está inocente no processo. A triste história das dívidas soberanas e a crise grega, onde comportamentos patológicos têm sido constantes, é outro problema que nos diz imediatamente respeito. A desindustrialização de parte substancial da Europa e a crise demográfica – problema especificamente europeu – são duas questões que levantam grandes perplexidades. A isto há que acrescentar o terrorismo no espaço da União Europeia e os graves problemas do médio-oriente, que nos afectam directamente, mais do que estamos dispostos a admitir.

Perante este cenário quase apocalíptico, nunca deixo de me espantar com aqueles que estão cheios de certeza sobre os caminhos que defendem. Esmagar os gregos ou torná-los heróis da resistência ao neoliberalismo. Ver o problema da Ucrânia como o resultado do desejo imperial russo ou como o efeito das manobras euro-americanas. Observar o terrorismo e as crises do médio-oriente como o produto dos ardis ocidentais ou olhar para esses fenómenos como luta emancipatória. Todas estas simplificações não passam de jogos infantis. Estamos a viver um momento muito grave e que não pode ser tratado como uma brincadeira de meninos. Exige de todos ponderação, sensatez e sentido de equilíbrio. Talvez assim se encontre um caminho que evite a desgraça que se perfila no horizonte. O pior que pode acontecer é que políticos e analistas se refugiem na infância e façam das vidas das pessoas brinquedos de crianças. E nada nos garante que não vá ser assim.

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