sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Da vida civilizada

Francisco de Goya y Lucientes - Cruel lástima!

Na sobrevivência cada qual é inimigo do outro, e quando medida por esse triunfo elementar (o de sobreviver), toda a dor é insignificante. (Elias Canetti, Massa e Poder)

A vida civilizada que, até aqui, nos tem sido dada a viver faz-nos esquecer, com demasiada facilidade, que a civilização não é um dado adquirido. A qualquer momento a queda no não civilizado é uma possibilidade que nunca deixa de assombrar a vida. A decisão fundamental - no sentido de um fundamento que escore o edifício da civilização - que pode afastar a queda na barbárie reside em evitar que a massa humana se aproxime perigosamente do limiar onde a luta pela sobrevivência é central. No fundamento de uma vida civilizada não está nem a educação nem a cultura, mas uma vida material que permita aos seres humanos afastarem do seu horizonte de preocupações a luta pela sobrevivência, essa luta onde qualquer dor é insignificante. Já que estamos a entrar num ano novo, seria bom que, Europa fora, não se esquecesse que aquilo que é ainda uma vida civilizada assenta no afastamento para longe desse fantasma, do retorno desse fantasma.

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