sábado, 25 de fevereiro de 2017

Camadas sedimentares

Mateo Vilagrasa - Libro III. Sedimentos (1993)

Ler os jornais, dar uma volta pelas redes sociais, ver e ouvir a informação. Tudo isso nos dá sempre a impressão de que cada coisa que acontece na vida social é de tal maneira importante que se estão a viver momentos que o tempo jamais apagará. Na verdade, tudo isto não resistirá à voragem dos dias. A maior parte dos acontecimentos que excitam as opiniões terão sido tragados dentro de semanas. O resto terá sido esquecido em breves meses. Estes acontecimentos que povoam os sonhos e os pesadelos da esfera pública dão materiais de tão má qualidade que a erosão os dissolverá rapidamente. Haverá, talvez no espaço de uma década, um ou outro evento que, apesar da erosão, restará como sedimento amalgamado numa camada que com o tempo será coberta e recoberta de outras camadas com outros sedimentos. Servirão essas camadas para quê? Servirão como chão que aqueles que virão muito depois de nós pisarão sem terem a menor ideia do que estão a pisar.

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