quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O sono da razão

Francisco de Goya - O sono da razão produz monstros (1797)

A razão tem limites? Tem. E esses limites devem ser reconhecidos e respeitados. São perigosos os devaneios da razão, nos quais ela ultrapassa os rigorosos limites que são os seus. O nosso tempo, contudo, não é um tempo de devaneios da razão. Em nome dela, já ninguém vende - ou sequer oferece - mundos novos e amanhãs cantantes. O pior é o sono em que a razão parece ter caído. E quando a razão adormece o que se manifesta são os monstros mais terríveis que habitam no fundo negro que há no homem. A vida segundo a razão não é particularmente exaltante. Cultiva-se a justa medida, procura-se o equilíbrio, olha-se com terrível desconfiança tudo o que é excessivo. Olhamos para o mundo que nos rodeia e o que descobrimos é o acordar dos monstros da desmedida e do excesso. O que vemos é o desconcerto em que bufões histriónicos se tomam como chefes de rebanhos embasbacados com as luzes da ribalta. A razão ocidental, vergada a algum potente soporífero, corre o risco de apenas acordar quando tudo estiver já em chamas.

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