quinta-feira, 4 de maio de 2017

Das ideias

Santiago Rusiñol Prats - Almendros en flor (1899-1904)

As ideias são melodias defuntas (Cioran, Le Crépuscule des Pensées)

Intimamente, embora durante muito tempo não o conseguisse formular claramente, sempre soube que havia alguma coisa de errado com as ideias. Nelas habita um espírito já morto ou como diz Cioran elas são melodias defuntas. Isto significa que delas se retirou a música e a vida que as teriam originado. Como tenho, enquanto funâmbulo, uma acentuada propensão para fazer aquilo que me é contrário, decidi dedicar a vida às ideias e, para me enganar, aparentar por elas uma paixão que, na verdade, nunca tive. Apesar do pathos exibido, com certa moderação, é certo, elas nunca me tocaram o espírito ou a alma. Deslizam diante de mim, convidam-me, por vezes, para uma ou outra festa, chegam a fazer-me propostas sedutoras, explicam-me até que eu mesmo não sou mais do que a ideia que tenho de mim.  Em vão. Não consigo levá-las a sério. [Confissões do funâmbulo Américo de la Torre - 1]

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