segunda-feira, 22 de maio de 2017

Do contorcionismo

John Ruskin - The Garden of San Miniato near Florence (1845)

Os jardins contorcem-se entre o estio e as trevas.
(Herberto Helder)

Que competência melhor para um funâmbulo do que aquela trazida pela arte da contorção. Como poderia equilibrar-me sobre o arame se não soubesse como me torcer e contorcer. E para quem acusa um infeliz funâmbulo de inconstância, de estar no mundo como um cata-vento, o que melhor se poderá retorquir do que, ostensivamente, apontar esse mundo e a volubilidade que o anima? Há dias li a história de uma daquelas almas rectas, sempre verticais, prontas julgar a moralidade dos pobres funâmbulos ou de senhoras volúveis. Odiava contorcionistas. Terrível era a sua ira, os olhos coriscavam e o dedo estava hirto de tanto ser posto em riste. Não se contorcia, nem quando estuprava meninas a entrar na puberdade. [Confissões do funâmbulo Américo de la Torre - 3]

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