sábado, 27 de maio de 2017

O poder

Heinrich Hoffmann - Hitler at a Nazy Party Rally (1934)

Um estudo efectuado na Colômbia, no âmbito das neurociências e da psicologia e tendo por objecto 66 terroristas paramilitares, mostrou que estes sofrem de um problema de "cognição moral". Orientam a sua acção pelos fins, não olhando a meios (ver aqui). O artigo parece, de forma surpreendente, suportar a ideia platónica de que a conduta não moral se deverá ao não conhecimento do bem. Não é, porém, o debate filosófico  que pretendo sublinhar. A questão é outra e resume-se a uma interrogação. Até onde iriam aqueles que lutam para alcançar o poder político ou para o manter, caso não existissem formas de limitar a sua conduta? Os casos extremos, como o terrorismo ou os regimes totalitários, iluminam-nos quanto à natureza do poder. Ele é o fim que justifica todos os meios para o alcançar e manter. E o poder democrático não será ele diferente? Não e sim. Mesmo democrático, o poder não deixa de ser um fim que justifica todos os meios. O que muda é a capacidade da sociedade civil e dos cidadãos, através do direito e da livre opinião, em obrigar os agentes políticos a uma conduta moralmente aceitável. A sociedade dotou-se de um conjunto de dispositivos que limitam a lógica da luta pelo poder, o obrigam a civilizar-se e a respeitar padrões éticos, cuja infracção os poderá afastar do poder. Do ponto de vista dos cidadãos, o mais importante não é se os políticos são ou não moralmente bons. O importante é que os mecanismos sociais que regulam a luta pelo poder obriguem os políticos a um comportamento eticamente aceitável. Quando estes mecanismos falham, sabemos por uma longa experiência - seja do terrorismo ou dos estados totalitários - que apenas se poderá esperar o pior.

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