terça-feira, 27 de junho de 2017

Um Deus pessoal

Leonardo da Vinci - Vitruvian man

Há em todos nós – talvez esta generalização não seja precipitada – um persistente e melancólico desejo de que os outros sejam melhores. Mais civilizados, mais honestos, mais atenciosos, mais competentes. Nunca as qualidades e as virtudes dos outros, por maiores que sejam, são suficientes para fazer esquecer a sombra viciosa que os toca aos nossos olhos. Este desejo de perfeição do outro não hesita em tomar palavra e desdobrar-se em textos e proclamações orais. A contrapartida disto não é menos interessante. Olhamos para nós, quando o fazemos, e o desejo de perfeição cessa. Os nossos vícios são, aliás e sabiamente, virtudes. É uma dupla graça que recebemos de Deus. Não só nos dotou com um olhar agudo com que perscrutamos o vício alheio como, ao criar-nos à sua imagem e semelhança, não se esqueceu, ao contrário do que aconteceu com os outros, de derramar em nós a sua ilimitada perfeição. Não há nada como um Deus pessoal, pensamos gratos.

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