sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Agências de rating

A minha crónica no Jornal Torrejano.

Há uma tendência – à esquerda do PS – para censurar continuamente as agências de rating e o papel que elas têm tido na dívida portuguesa. E como consequência dessa censura dizer-se que as avaliações delas não devem ser tidas em conta, o que interessa é a vida dos portugueses e não a opinião de agências de especuladores. Ora é aqui que devemos perceber a distinção entre o que a realidade é e aquilo que deveria ser.

Podemos questionar a moralidade ou não destas agências de rating. Ao olharmos para a sua história e para muitas das suas decisões, ficamos convencidos de que o mundo seria, na verdade, um sítio melhor se elas não existissem. Desconfiamos também que as suas decisões arbitrárias prejudicaram o país e os portugueses. Em resumo, do ponto de vista moral não é errado, antes pelo contrário, censurar as agências de rating e o seu papel.

Se isso não é errado, será correcto dizer que Portugal e os portugueses não devem prestar atenção aos juízos dessas agências? A resposta a esta pergunta é composta por duas outras perguntas. Portugal poderá sobreviver com avaliações muito negativas dessas agências? Os portugueses e as empresas nacionais poderiam viver melhor sem uma avaliação positiva da nossa dívida por parte dessas agências? A resposta a estas duas perguntas é uma só: não. Nem o país, nem os portugueses, nem as empresas portuguesas têm independência suficiente para serem indiferentes ao juízo desses agências.

Do ponto de vista político, a moralidade ou a imoralidade das agências de rating é um problema inútil. Não temos capacidade nem autonomia para viver sem esse juízo. Ele é-nos imposto tal como os fenómenos naturais. Por muito que protestemos, os dias de calor são dias de calor e os dias de frio são dias de frio. Quando se diz que o facto da agência Standard & Poor’s ter tirado a dívida portuguesa da categoria de lixo (uma metáfora que quer dizer mau investimento) não é muito importante e que Portugal não pode depender dessas agências para tomar decisões, está-se a mentir deliberadamente e a vender uma ilusão.

Não temos poder para manipular o clima, para evitar os dias de calor ou os dias de frio, mas podemos protegermo-nos do calor e do frio. Também não temos poder para nos libertar das agências de rating, mas podemos protegermo-nos delas. Como? Controlando o défice público (e o privado), não gastando mais do que é possível, gerindo com rigor a fazenda pública e pagando a dívida para nos irmos libertando dela. Não há outro caminho para nos protegermos da falta de moral das agências de rating. E é isso que todos devemos exigir que aconteça e não semear a ilusão de que não dependemos delas.

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