domingo, 1 de outubro de 2017

Catalunha e o vírus nacionalista


O processo catalão, como é hábito nestas coisas, tem a capacidade de incendiar paixões mesmo em quem está de fora, por não ser espanhol ou catalão. Num mundo ideal, a questão resolvia-se com bastante facilidade. Um referendo - que deveria ser possível em qualquer constituição normal - e os cidadãos da Catalunha escolheriam o caminho que seria o deles. Sem dramas nem punições. Isto não é possível porque as partes, as duas, estão contaminadas por um malévolo vírus político que, depois de estar quase controlado na Europa, começou a mostrar-se resistente aos mais fortes antídotos. Refiro-me ao nacionalismo. Podemos ver este conflito à luz da metáfora da guerra biológica. Cada uma das partes lança sobre a outra bombas com vírus nacionalistas. 

Um dos resultados desta guerra biológica, um resultado que parece favorável aos independentistas, relaciona-se com a imagem que vai ressaltar para a opinião pública global. A Catalunha surge como oprimida, impedida de votar, enquanto Espanha se deixa capturar na figura de opressora, a potência que envia a sua polícia para impor a lei que os catalães parecem - digo parecem, pois não sabemos o que pensam todos os catalães - não querer reconhecer como sua. A estratégia política do nacionalismo catalão não seria tanto fazer um referendo, mas construir uma imagem de Espanha como potência colonial e uma imagem da Catalunha como colónia dominada pela violência policial do colonizador. 

Quando o vírus nacionalista, que ataca ambos os lados, consegue colocar as coisas neste pé, podemos esperar o pior. O nacionalismo madrileno pode ganhar a questão do referendo, com a sua não realização ou realização fragmentária, mas o nacionalismo catalão pode sair profundamente reforçado, internamente, ao nível simbólico e, externamente, na imagem dada ao mundo de uma nacionalidade oprimida mesmo num regime democrático. Tudo isto contém uma lição - que não é nova - mas que as pessoas esquecem rapidamente: sempre que o vírus nacionalista ataca, podemos estar à beira de uma desgraça.

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