sábado, 7 de outubro de 2017

Rui Rio


Rui Rio não agrada a uma parte do PSD, aquela que se integra no que Pacheco Pereira, no Público de hoje, chamou, não sem razão, a alt-right portuguesa. O artigo citado, ainda que de forma indirecta, explica as razões porque toda essa gente, que dentro e fora do PSD apoiou a deriva protagonizada por Passos Coelho, tem medo de Rui Rio. Interessam-me, porém, as razões por que a esquerda deve temer um PSD liderado pelo antigo presidente da câmara do Porto. E existem algumas e ponderosas razões.

Em primeiro lugar, a tendência para reconquistar o centro, que Passos Coelho, no seu (ou dos seus conselheiros) delírio liberal, abandonou à esquerda. Rui Rio pode muito bem, respeitando a história do velho PSD, protagonizar uma política que vise uma sociedade mais equilibrada e socialmente mais aberta, na tradição de Sá Carneiro e de Cavaco Silva, primeiro-ministro. Com Rui Rio o centro deixa de ser uma coutada da esquerda, como é hoje em dia.

Em segundo lugar, Rui Rio, apesar de não ser uma figura com grande peso nacional, tem uma auréola de competência e de resistência a interesses particulares, proveniente da sua estadia na segunda maior câmara do país. Acabou com a promiscuidade entre política e futebol, enfrentou Pinto da Costa, e não deixou de ganhar as eleições no Porto. Tem potencial para criar uma figura de homem vencedor, determinado, independente e inflexível com os interesses particulares.

Por fim, tem uma certa aura, feita de distância, de autoridade e de um certo paternalismo provinciano, que os portugueses têm por costume recompensar nas urnas. Uma aura idêntica à de Cavaco Silva, embora um tudo nada mais cosmopolita e sofisticada. De certa maneira, corresponde a um arquétipo político que teve encarnações, ideologicamente diferenciadas, em figuras como Salazar, Cunhal, talvez Sá Carneiro e o referido Cavaco Silva.

A direita – essa alt-right paroquial e provinciana, apesar da aparência cosmopolita, escorada no Observador – pode não gostar – ou mesmo temer – Rui Rio no PSD. Contudo, será a esquerda que terá mais a perder e a temer se for Rui Rio o futuro presidente do PSD.

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