quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Credo quia absurdum

Raymond Daussy - Icarus flight (1948)

Talvez um dia destes fale sobre Tertuliano. Tudo é possível. Hoje, porém, fico-me pela frase latina Credo quia absurdum,  Creio porque é absurdo. O que me interessa não é a polémica religiosa entre o fideísmo e a ortodoxia, tão pouco o desafio que ela apresenta à razão filosófica. A frase de Tertuliano é um óptimo guia para determinar a verdade dos acontecimento políticos de hoje em dia. Há tempos, muito se falou – por exemplo, na sequência do Brexit ou da eleição de Trump – numa era da pós-verdade. Erro de perspectiva. A nova era não nega a verdade, diz-nos apenas que o verdadeiro é absurdo. As pessoas lamentam-se de que, em política, não sabem o que acreditar e em quem acreditar. A solução é fácil: quanto mais absurdo mais digno de ser considerado verdade. Um acontecimento é absurdo, logo é verdadeiro. Um personagem político é absurdo, logo é digno de crédito. Qualquer argumento político que se possa reduzir ao absurdo deve ser considerado válido. Tertuliano, na verdade, era um visionário. Da longínqua Cartago dos século II e III da nossa era, ele olhou para o futuro e compreendeu a essência dos nossos dias: Credo quia absurdum.

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