sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Inquietação

James Ensor, The Scandalized Masks

Há uma coisa profundamente inquietante no ataque terrorista ocorrido esta semana em Estrasburgo. O inquietante não nasce do facto de o atacante ser um lobo solitário, nem de ter perpetrado o ataque numa cidade simbólica para a União Europeia, nem de o alvo ser um mercado de Natal. Tão pouco brota de o atacante ter conseguido fugir e, posteriormente, ter sido abatido, sem que se possa vir a conhecer as suas reais motivações. O inquietante nasce deste ataque já não ter provocado inquietação. Não provocar inquietação não significa apenas que os europeus sabem que têm de conviver com o terror dentro das suas fronteiras e que isso se banalizou e faz parte do hábito social, ao qual se reage burocraticamente. Não provocar inquietação significa que uma zona obscura em nós já legitimou a existência destes ataques. Ao nível consciente, ainda sabemos que o terror é ilegítimo do ponto de vista do direito. Ao nível inconsciente, a Europa, de certa maneira, já concedeu uma negra legitimidade fáctica ao terror. E isto é inquietante. Profundamente.

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