domingo, 27 de janeiro de 2019

A escolha de João Miguel Tavares

Francis Bacon, Figure in a Landscaspe, 1956

Não sei se é necessário ter algum currículo relevante para presidir à comissão organizadora do Dia de Portugal. Se o é, explica-se o desconforto sentido por muita gente perante a escolha do Presidente da República do colunista do Público João Miguel Tavares. Na verdade, o eleito de Marcelo Rebelo de Sousa é conhecido apenas pela sua coluna de opinião no jornal referido e pela participação num programa televisivo em que se mistura política e engraçadismo. Como serviço relevante à comunidade parece pouco para a distinção. O que se passa muitas vezes é que o PR de serviço escolhe alguém cujo prestígio pessoal sirva para reforçar o prestígio e a legitimidade social do próprio PR. Foi esta tradição que foi cortada. Marcelo Rebelo de Sousa não necessita de reforçar a sua legitimidade social e política. Sente que a tem para dar e vender.

Como explicar então a inusitada escolha de um homem sem qualidades? O actual Presidente nunca e em circunstância alguma se exime de fazer política. Desde as selfies que tira com meio mundo até aos momentos de grande compunção, passando pelos actos triviais da vida política, tudo é pensado politicamente. E só assim se poderá entender a escolha deste ano. Na verdade, trata-se de uma mensagem para dentro da direita. Marcelo Rebelo de Sousa terá sentido que existe, na direita portuguesa, uma pulsão demasiado securitária, presa a uma inclinação identitária, que muitas vezes se oculta na retórica liberal para disfarçar o ressentimento e um mau convívio com a democracia e a diversidade de opiniões. Ora, João Miguel Tavares, assumindo-se claramente de direita – o que tem o condão de irritar a esquerda – e liberal, fá-lo sempre dentro de uma perspectiva democrática, onde não existe vestígio de ressentimento e onde as posições relativamente à liberdade são inequívocas. A escolha de João Miguel Tavares é uma clara indicação sobre o tipo de direita que o país necessita, no entender de Marcelo Rebelo de Sousa. Um acto político de incidência pedagógica para dentro das fileiras a que o actual PR pertence.

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