sábado, 26 de janeiro de 2019

O acto falhado de António Costa

Fotografia daqui.

“Deve ser seguramente pela cor da minha pele que me pergunta se condeno ou não condeno os actos de vandalismo em Portugal”, respondeu António Costa a uma pergunta trivial e retórica de Assunção Cristas. O inusitado da resposta, ao deslocar a questão política para a questão pessoal e de etnia, acendeu de imediato o rastilho de um ódio que existe, em certos sectores da direita social, ao primeiro-ministro. As palavras do chefe do governo, ao insinuar que haveria por parte do CDS uma atitude racista, são injustas e deslocadas. No entanto, esta resposta é particularmente interessante. Ela é aquilo que se chama, em psicanálise, um acto falhado. Costa disse, num momento de confronto e tensão, algo que ele recalca e que, pelos vistas, habita no seu inconsciente. Apesar do seu assinalável êxito na sociedade portuguesa – presidente da maior câmara municipal do país e primeiro-ministro –, apesar de a sua família paterna fazer parte da casta mais elevada da Índia, ele não se libertou de não ser completamente europeu. Parece preocupar-se, efectivamente, com a cor da sua pele. Só uma tensão inconsciente tão grande explica que uma resposta tão idiota e contrária aos seus interesses políticos pudesse ter rompido a barreira de censura que todos impõem ao inconsciente. Que motivos terá o inconsciente de António Costa para se manifestar assim? É possível que a resposta a esta questão nos diga alguma coisa sobre o racismo brando que existe em Portugal. E, repito, não se trata do CDS, partido onde tiveram papel preponderante pessoas com as mesmas origens de António Costa, sem que isso fosse, para essas pessoas, problema ou obstáculo para alguma coisa.

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