domingo, 6 de janeiro de 2019

Televisões e populismo

Tom Wesselmann, TV Still Life, 1965

A história da ida de Mário Machado, um elemento da extrema-direita com condenações por crimes graves de delito comum, a um programa de Manuel Luís Goucha, na TVI, sublinhou, mais uma vez, um fenómeno a que deveria ser dado uma atenção especial. Trata-se do contributo dos canais de televisão para a criação de um ambiente propício à emergência em Portugal daquilo a que hoje se convencionou chamar populismo. Há muito que os principais canais de televisão portugueses perderam um módico de racionalidade. Basta ver os telejornais para perceber que, a luta pelas audiências, conduz as televisões à exploração dos instintos mais baixos da população.

Por si, a ida de Mário Machado à TVI é uma irrelevância. Deixa de o ser se for integrado no contexto da informação e dos programas que os canais de televisão produzem. Basta ver a forma como investem nos casos que envolvem políticos, como produzem delírios justicialistas, como exploram decisões legítimas, embora conflituais, para criarem ambientes de intensa emotividade, ou como se mostraram melancólicos perante o evidente fracasso dos coletes amarelos da nossa paróquia. As televisões perceberam há muito que a destruição da democracia rende audiências e, como estamos a ver cada vez mais claramente, não terão o mínimo pudor em gerar um ambiente de irracionalidade no país. Corremos o risco de um dia acordarmos com uma vida política sem controlo, não porque a situação do país seja grave, mas porque as televisões precisam de audiências.

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