domingo, 24 de fevereiro de 2019

Remodelação, Bloco, Greves e Exames


1. REMODELAÇÃO DO GOVERNO. A importância da remodelação do governo ocorrida no início da semana é, do ponto de vista da orientação política, tendencialmente nula. No entanto, ela é da máxima importância para o futuro do Partido Socialista. Dela ressaltam três nomes que merecem atenção e que, por certo, irão desempenhar um importante papel na vida política portuguesa. Pedro Marques que deixa de ser ministro e é o candidato dos socialistas ao parlamento Europeu. Pedro Nuno Santos e Mariana Vieira da Silva que sobem de secretários de Estado a ministros. Todos eles com excelente preparação e não menor ambição política.

2. BLOCO DE ESQUERDA. A dissidência de vinte e seis militantes do BE e a respectiva justificação vieram confirmar aquilo que toda a gente sabia. O Bloco não é, apesar de alguma retórica, um partido revolucionário. Desde o início do projecto que ele representa a social-democratização de antigos trotskistas, estalinistas e maoistas, uma forma da sua integração no sistema político nacional. E isto não é tanto uma traição aos velhos ideais, mas a confissão de que eles não fazem sentido nos dias de hoje. O Bloco de Esquerda representa o triunfo do princípio de realidade sobre o princípio do prazer (esse grande orgasmo que se espera que a revolução seja). E foi em nome da recusa da realidade que os militantes dissidentes bateram com a porta.

3. GREVES NA FUNÇÃO PÚBLICA. Em ano eleitoral o governo enfrenta uma terrível onda de greves. A ideia dos grupos grevistas parece ser dobrar o governo às suas reivindicações para evitar o desgaste político que essas greves implicam. O governo tem resistido e os grevistas têm replicado com furor. Quem tem razão? Ambos. O governo tem razão pois o Estado não tem dinheiro para responder às reivindicações dos seus funcionários. Os funcionários têm razão porque é inexplicável a imoralidade do poço por onde corre o dinheiro público, desde as PPP aos sucessivos e intermináveis resgates à banca. As greves actuais da função pública são também o retrato do desastre da gestão da República nas últimas décadas.

4. EXAMES E RANKINGS. Saíram os rankings dos exames nacionais, o que por norma é motivo de grandes equívocos e de enorme excitação. O Público foi uma imagem de tudo isso, mas uma imagem cruel. Enquanto havia artigos onde as escolas com melhores resultados se mostravam ufanas, um estudo muito consistente de duas universitárias do Porto mostrava uma coisa terrível. Os alunos que pertencem às escolas – privadas mas também públicas – com melhores resultados nos exames têm piores desempenhos na Universidade. Sim leitor, leu bem: piores resultados. O mundo é cruel.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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