sexta-feira, 21 de junho de 2019

Autarquias, professores, padres casados e futebol


PODER AUTÁRQUICO. Depois da operação Teia, uma nova operação contra detentores – ou ex-detentores – do poder autárquico. Não faço ideia o que pensam presidentes de câmara e vereadores sobre a reputação das autarquias. Qualquer cidadão percebe que essa reputação está muito longe de ser a melhor. Poderão os autarcas fazer alguma coisa pelo poder municipal e, através dele, pela democracia? Podem. Devem exigir a criação – ou criá-los, se para isso tiverem poder – de mecanismos de completa transparência nos concursos públicos e na gestão da coisa pública. Mecanismos a que os próprios cidadãos possam aceder. Devem ter uma gestão dos municípios e das suas condutas políticas absolutamente frugal. Isso ajudaria em muito à reputação das autarquias.

PROFESSORES. Saiu o calendário escolar do próximo ano lectivo. Os jornais anunciam três semanas de férias de Natal. Nas caixas de comentários dos jornais online não tardou a habitual campanha contra o professorado. Ninguém quis saber que a pausa lectiva do próximo ano é praticamente igual à dos anos anteriores. Há mais um dia sem aulas. Porquê? Porque o dia habitual de recomeço das aulas, 3 de Janeiro, é uma sexta-feira e o governo achou sensato fazer o recomeço na segunda-feira seguinte. O caso serviu para uma pequena fronda contra os professores. Isto diz muito do país que somos.

ORDENAÇÃO DE HOMENS CASADOS. A Igreja Católica vai discutir a possibilidade, na Amazónia, de serem ordenados como padres homens casados. A expectativa de alguns, porém, é que este seja o primeiro passo para que o processo seja replicado noutros lugares do mundo, onde a Igreja enfrenta o mesmo problema da falta de sacerdotes. A abertura ao mundo moderno feita pelo Concílio Vaticano II foi seguida pelo declínio das vocações e pelo abandono do sacerdócio por muitos padres. Os conservadores vêem o concílio como a causa do problema. No entanto, ninguém pode afirmar que mantendo-se a Igreja fiel ao espírito tridentino a situação não seria a mesma ou pior. Vamos assistir, por certo, a novos confrontos entre tridentinistas e adeptos do Vaticano II.

FUTEBOL. A transferência do jogador João Félix para o Atlético de Madrid, por 120 milhões de euros, por muito que adeptos compradores e vendedores se alegrem, mostra que o futebol é, há muito, um jogo cujo centro reside no dinheiro. Sem este, o futebol tal como existe desabaria. O que impressiona, porém, é os adeptos confundirem o peso do dinheiro com o mérito desportivo dos seus clubes. O mérito dos vitoriosos reside em grande parte no dinheiro que têm.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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