segunda-feira, 9 de março de 2020

A Casa Esquecida 6

Gerardo Rueda, Verde, 1961

São dias de maré. As planícies a arder na loucura,
o veredicto trazido pela cambraia das estações.
Inútil a cara sobre o lençol, os músculos abertos
para a praia juncada pelas algas do esquecimento.
Como será a luz das tuas mãos na luz de Setembro?

O coração estará longe, perdido na poalha do dia,
entre aniversários, amigos de copo na mão, gente
sem a urgência de chegar ou partir, sem a ânsia
de uma carta ou das canções que te ouvia
se cantavas debaixo de um céu de cinza e gaivotas.

Esqueço-me da verdade no desvario da sombra
que há nos cabelos ao caírem-te pelos ombros.
Esqueço-me do vinho a transbordar no copo vazio
de um corpo ferido pela harmonia de outro.
Esqueço-me do mar no sonho dos teus segredos.

(1981)

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