sexta-feira, 24 de abril de 2020

Cópias degradadas

Ilse Bing, Three men on steps by the Seine, 1931
Não fora o inusitado das vestes, e dir-se-ia que estávamos perante uma fotografia do nosso quotidiano e não de uma cena com quase noventa anos. O homem sentado no degrau inferior parece estar concentrado no monitor de um portátil. Todos os presentes guardam entre si uma distância recomendável, como se o mundo tivesse sido atingido por um vírus contagioso, e o polícia assegura que não haja aproximações que infrinjam a distância de segurança. Assim como as coisas do mundo sensível são, segundo Platão, cópias imperfeitas das coisas do mundo inteligível, também a nossa presente infelicidade será cópia degradada de outros momentos menos infelizes que, ao passarem, se tornaram em puras e perfeitas ideias platónicas. 

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