segunda-feira, 27 de julho de 2020

Diálogos aporéticos (06) - A carta

Hans Baumgartner, Ferien am Canal du Midi. France, 1949

- Hum… hum... hum.
- Pareces muito contente.
- Férias põem-me sempre bem-disposto.
- Pensava que era a carta.
- Cartas fazem parte das férias.
- Fazem?
- Sim, há que escrever, há que dar conta das novas experiências.
- Não vejo o interesse.
- É só uma questão de pensares um pouco.
- Sim, estou a pensar nisso desde que começaste a escrever.
- E a que conclusão chegaste?
- A nenhuma, por isso te perguntei.
- Então, é isso o que te disse.
- Dar conta das novas experiências.
- Não precisas de me repetir.
- A quem?
- Ora, a quem haveria de ser.
- Não estou a compreender. Há alguma coisa que me escapa.
- Talvez.
- Tens alguma novidade para me contar?
- Novidade? Tanto quanto saiba, não.
- Então estás a escrever para quem?
- Para mim. Para quem haveria de ser?
- Não entendo.
- Se quiseres posso incluir-te no endereço, sempre vivemos na mesma casa.
- Dispenso, mas escreves para ti porquê?
- Para quando chegarmos, poder saber aquilo que andámos a fazer fora de casa.

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