sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Sonhos numa noite de Verão 23

Luís Noronha da Costa, Deus morreu: Morte ao rei, C. 1971-1975
A paisagem sombria, feita de matérias imponderáveis, não facilitava a caminhada. A falta de resistência, estranhamente, retardava o movimento do corpo e agravava o esforço exigido aos músculos para se moverem. Ela, uma beleza singular e resplandecente, dirigia-se para mim com decisão, uma sombra que me fazia arder de desejo. Imaginava-a despida, o contorno do corpo, a firmeza dos seios, as pernas magníficas sob o império dos meus dedos. Quando se aproximou, vi que a seguia outra sombra mais pequena. Não a devias ter trazido contigo, gritei. Ela, porém, passou pelo meu corpo como se fossa um holograma. Acordei sobressaltado e nos meus ouvidos ressoava ainda a sua resposta: esta é a tua morte, trata-a como se fosse filha tua. 
 

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