quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Sonhos numa noite de Verão 27

Andreas Feininger, Bat Flight, 1952

De súbito, o céu escureceu e, misturados com o repicar dos sinos, ouviam-se gritos lancinantes. Perdido num sítio desconhecido, num lugar que não conseguia compreender, sentia uma dor profunda sempre que ouvia aquilo que supunha ser a expressão de dor de alguém. O troar do bronze lançava-me, porém, num mundo de melancolia, onde os dias de infância iam e vinham a cada badalada. O corpo rasgava-se e o espírito cindia-se. As luzes do céu apagaram-se cobertas por uma grande praga de morcegos. Era nítido o rugir das suas asas. O mundo está a acabar, pensei. Senti, então, tristeza e revolta. Adormecera e acordava em aflição. Não havia morcegos, nem gritos, apenas o ano se despedia mergulhado no silêncio das badaladas na torre da igreja. 

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