tag:blogger.com,1999:blog-19334194969120051012024-03-18T03:04:32.591+00:00Kyrie EleisonJorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.comBlogger3401125tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-21473233383618255152024-03-17T10:42:00.006+00:002024-03-17T10:42:43.008+00:00Beatitudes (66) Música da noite<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgn0K3hCH-VH7Riw1uvnOes_61mA0XcQILv0DjBNvyEHxJRn-rG6qynJcWXf1fmL4_69qP_BOAR_BqEcyb-r2RtiHdiwy4j_NCa9vSwoyuKI94WkWuJlOwiMjMEqMXFF3XhPUAiV3hHN5LNRsNM05YGKicZenfOZhY_DyiUYzZpOBhZRE9hNjt1xit2nRvh" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="719" data-original-width="964" height="478" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgn0K3hCH-VH7Riw1uvnOes_61mA0XcQILv0DjBNvyEHxJRn-rG6qynJcWXf1fmL4_69qP_BOAR_BqEcyb-r2RtiHdiwy4j_NCa9vSwoyuKI94WkWuJlOwiMjMEqMXFF3XhPUAiV3hHN5LNRsNM05YGKicZenfOZhY_DyiUYzZpOBhZRE9hNjt1xit2nRvh=w640-h478" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Ernst Ludwig Kirchner, <i>Accordion Player by Moonlight</i>, 1924</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Os sulcos da noite abrem-se à luz da Lua. Tudo o que dia manifesta, vinda a escuridão, transforma-se em segredo e enigma. Então, um homem senta-se na humidade do chão e das suas mãos sai uma música que sobe suavemente às esferas celestes. Tomadas pelo mistério da hora, as mulheres sentam-se extáticas e contemplam a invisível linha do horizonte, enquanto o luar e anoite entram pelos seus olhos e a música as invade, abrindo o coração para a alegria desmedida das noites eternas.</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-42453843728784881712024-03-15T17:12:00.004+00:002024-03-15T17:12:31.981+00:00A degradação da paisagem política<p style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjC3acpGDZSYVlI4ZWu_Lfcogz23OSXc4WAXKG6Offq8Bu7G0guNM0ecw2hUx4YTZTfdkGUEAuu-0gFz0fMVPDR1Nye7GLCs4Xbs-hH0HruHB3_e2UJ7O9cO7b9AZYmTBIfuI0B_99Z9zx0bVUk4oETnSVBYc8IPubciljHY1LN2RVZE-IOf9ktSzIyzMjG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="184" data-original-width="640" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjC3acpGDZSYVlI4ZWu_Lfcogz23OSXc4WAXKG6Offq8Bu7G0guNM0ecw2hUx4YTZTfdkGUEAuu-0gFz0fMVPDR1Nye7GLCs4Xbs-hH0HruHB3_e2UJ7O9cO7b9AZYmTBIfuI0B_99Z9zx0bVUk4oETnSVBYc8IPubciljHY1LN2RVZE-IOf9ktSzIyzMjG=w640-h184" width="640" /></a><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Não vale a pena comentar o caos em que
as decisões de Marcelo Rebelo de Sousa lançaram o país. Também não vale a pena
salientar que o nosso sistema semipresidencial é um problema, devido aos
poderes arbitrários dos Presidentes da República. Vale a pena, porém, olhar
para o país e para aquilo que estas eleições mostram. Em primeiro lugar, o
tradicional centro político (CDS, PSD e PS), embora maioritário no país, já não
chega aos 60%. Em 2022, os três partidos somados ultrapassavam ligeiramente os
70%. Uma radicalização que atingiu duramente os resultados do PS, mas que
também paralisou o par CDS e PSD, que, como AD, têm mais ou menos a mesma
percentagem de votos que em 2022. A rasura do centro é um preocupante sinal de
degradação da vida democrática.</span></span></p><div style="text-align: justify;">
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">A paisagem política mudou radicalmente
com os 18% do Chega. O seu crescimento exponencial é outro dado da
radicalização do país. Não apenas por ser um partido populista, mas pelo facto
de conseguir atrair o eleitorado não tendo qualquer consistência discursiva ou
de atitude. Se compararmos o Chega com o Vox espanhol, percebemos de imediato
uma diferença significativa. O partido espanhol é altamente estruturado, tanto
do ponto de vista ideológico como do comportamento das suas lideranças. O
partido português chega a uma votação significativa apenas fundado nas
diatribes de André Ventura, no comportamento desrespeitoso perante os
adversários políticos, as instituições democráticas da República e os grandes
valores do 25 de Abril. Na prática, os eleitores não fazem ideia de quais são
as políticas substantivas do Chega. Mesmo assim votam nele, como se houvesse um
desejo de destruição, a começar na destruição do PSD – um dos objectivos de
Ventura – e a seguir da democracia tal como a entendemos.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Outro sinal da radicalização da nossa
sociedade é a erosão do Partido Comunista. É preciso compreender o papel
central que este partido tem tido no equilíbrio do sistema político. Não tanto
no jogo parlamentar, embora também aí tenha tido papel de relevo, mas no jogo
social, onde o papel do PCP nos sindicatos tem sido central para evitar
contestações anárquicas do regime e tem servido de escape aos sentimentos
negativos que podem atingir parte da população. Neste momento, existem já
movimentos de contestação inorgânicos, que não obedecem a qualquer
racionalidade política, os quais são uma ameaça para a saúde da democracia. A
erosão parlamentar do PCP e a do movimento sindical, que dificilmente será
travada, é um outro sintoma de degradação da paisagem política no momento em
que a transição à democracia faz 50 anos.</span><span face="Calibri, sans-serif"><o:p></o:p></span></span></p></div>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-88236314889630424182024-03-13T19:20:00.000+00:002024-03-13T19:20:08.545+00:00XI En suspens<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjG8SFB0gqpjQZPYpSyDPzqxJqVzBeNLjLg8RIwLtACSVLoS1K45twZSUeeAPSO4kfRST9_ckl8sOkc3dcVR2GnA1-l_vCaPdGb1alFAUrVUL2FGhBy3ZlpX3xPGU-lyP0BVjwmxxTPPVdsw1XfWcTvkRogJ7FdP35d4Dsu3xiNdvREavRIN2c1rALFAMox" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="550" data-original-width="800" height="440" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjG8SFB0gqpjQZPYpSyDPzqxJqVzBeNLjLg8RIwLtACSVLoS1K45twZSUeeAPSO4kfRST9_ckl8sOkc3dcVR2GnA1-l_vCaPdGb1alFAUrVUL2FGhBy3ZlpX3xPGU-lyP0BVjwmxxTPPVdsw1XfWcTvkRogJ7FdP35d4Dsu3xiNdvREavRIN2c1rALFAMox=w640-h440" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Stipo Pranyko, <i>Cuadro com remo</i>, 1998</span><br /><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">murmúrios no vento andrajoso<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">suspendem-se ao tocar leves o
chão<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">são palácios de gelo frio
rugoso<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">mal os vejo na luz da outra mão<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">estrela no céu flutua<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">deusa breve branca e nua</span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i><br /></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 0pt;"><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px; text-align: left;">[</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: times; font-size: 15.4px; line-height: 0px; text-align: left;">Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px; line-height: 0px; text-align: left;">]</span></p></div></td></tr></tbody></table>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-20316255130017016372024-03-11T16:59:00.003+00:002024-03-11T16:59:32.377+00:00A tal maioria sociológica de direita<p style="text-align: center;"></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiWmYGSmeHTuDVqQ8X5YJ4gmCMZohIQLujVIrPB8NUkGG__8RhRNvixFKv1suLouXgey1SYEKODyFuLe6yneXllxmRwekSrCqmgL5d5RUGjezKUcfavcxU5LtKmQ0R4vcS2CJAWewvZXGNdQ2cF4hztXAtihIeMINfRjhgP5EnUmMigvh-2rCbzZmnLi_aQ" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-size: xx-small;"><img alt="" data-original-height="800" data-original-width="518" height="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiWmYGSmeHTuDVqQ8X5YJ4gmCMZohIQLujVIrPB8NUkGG__8RhRNvixFKv1suLouXgey1SYEKODyFuLe6yneXllxmRwekSrCqmgL5d5RUGjezKUcfavcxU5LtKmQ0R4vcS2CJAWewvZXGNdQ2cF4hztXAtihIeMINfRjhgP5EnUmMigvh-2rCbzZmnLi_aQ=w258-h400" width="322,5" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Umberto Boccioni, <i>Agitate Crwod Surrouding a High Equestrian Monument</i>, (1908)</span><i> </i></td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;">Um dos comentadores da SIC, daqueles que passam por independentes, dizia, não sem enlevo, que agora há no país uma maioria sociológica de direita. E isso justificará, por certo, que se realizem as políticas que ele, comentador, deseja. Contudo, há um erro fundamental na sua apreciação. Não existe qualquer maioria sociológica de direita. Existe, sim, uma maioria eleitoral de direita, uma maioria significativa, mas, como todas as maiorias eleitorais, meramente conjuntural. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;">Imaginemos um programa como aquele que Passos Coelho tinha para a sua segunda legislatura, caso tivesse uma maioria no parlamento. Um programa que a Iniciativa Liberal, por certo, apoiaria com entusiasmo. O PSD e CDS apoiariam, mas com pouco entusiasmo. Imaginará o comentador da SIC que a maioria das pessoas que votaram no Chega suportaria esse tipo de política? Por certo haverá gente, entre os quadros recrutados na IL e na área da AD, que aplaudiria uma política dessas, mas a multidão votante do Chega, mal percebesse a realidade dessas políticas, logo se desligaria do partido de Ventura, caso este se decidisse apoiar aquilo com que o nosso comentador sonha. É pouco plausível que exista, no país, uma maioria sociológica disposta a apoiar os sonhos do que se convencionou chamar neoliberalismo.</span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-8718758549906870852024-03-09T14:06:00.002+00:002024-03-09T14:19:41.270+00:00O progresso moral da humanidade (16)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj_yucSDHjU7PU3DXidVIQlJZte6JZND6vcGZCE3bIoffoLp6CpZcp1ews5UkyKwqqOdmkbxMKy16DmlI7BZYwJHyptrV3G47azftxoCjH8tYmMxvkoffNliqp_ym_a01IIqTDiQW9D1K86D7zy67HxNHHZnS4V2zTAl4dFQ8hbkW8fHFA5HQZd0_fXuy-4" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="608" data-original-width="800" height="486" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj_yucSDHjU7PU3DXidVIQlJZte6JZND6vcGZCE3bIoffoLp6CpZcp1ews5UkyKwqqOdmkbxMKy16DmlI7BZYwJHyptrV3G47azftxoCjH8tYmMxvkoffNliqp_ym_a01IIqTDiQW9D1K86D7zy67HxNHHZnS4V2zTAl4dFQ8hbkW8fHFA5HQZd0_fXuy-4=w640-h486" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Xaime Quessada, <i>La guerra</i>, 1967</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">A guerra é o ofício do ódio abstracto. Matam-se pessoas não porque se odeiem pessoalmente, mas porque foi prescrito que se devem matar, pois estão ao serviço do inimigo. Aqueles que podem morrer pela nossa acção ou aqueles que podem matar-nos são apenas desconhecidos, os quais, a mais das vezes, receberíamos em casa e com eles, a partir de certa altura, partilharíamos a mesa e as confidências. Na verdade, os soldados nunca matam o seu verdadeiro inimigo, o qual pode estar tanto no outro lado da trincheira como do seu lado, mas um igual, por norma um inocente que chegou ali tão espantado quanto ele. Será um enigma o facto de os homens, aqueles que foram investidos na função de combatente, não se recusarem a entrar num jogo em que nada têm a ganhar e tudo a perder. O que os atrairá nesse ódio abstracto que lhes obnubila o juízo moral?</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-63420270297985636012024-03-07T14:41:00.001+00:002024-03-07T14:41:22.145+00:00Cadernos do esquecimento 53 Duplicar a vida<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiwkofEkIV6D8DHIjDvS_1l1yaxwlcVmzQlikEIXFkg-WmqXqkyQ0a4O-uaVY0v-XUyIceXlKtr8qrE4ExAD2eBpDrbHtYcnKVRpkKzHZoMjRVtzvPAFOV5pe3DI6lIHp_gruBEhQgph6HtAexz5wI84Wp91iF_1nJsfXc5JuJoEAH-Kb_Ihgf0gtfw9UsZ" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="800" data-original-width="529" height="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiwkofEkIV6D8DHIjDvS_1l1yaxwlcVmzQlikEIXFkg-WmqXqkyQ0a4O-uaVY0v-XUyIceXlKtr8qrE4ExAD2eBpDrbHtYcnKVRpkKzHZoMjRVtzvPAFOV5pe3DI6lIHp_gruBEhQgph6HtAexz5wI84Wp91iF_1nJsfXc5JuJoEAH-Kb_Ihgf0gtfw9UsZ=w265-h400" width="331,25" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Paul Signac, <i>Women at Well</i>, 1892</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Dever-se-ia anotar toda a vida, fazer o registo minucioso do que se foi vendo e ouvindo, dos grandes acontecimentos e das trivialidades de cada dia, dos actos e das omissões. Fundamentalmente, das palavras que se foram trocando, as ditas e as escutadas. Ter-se-ia, então, duas vidas, a vida vivida no mundo da vida e a vida escrita. Uma seria turbulenta; outra, serena com a serenidade que a escrita traz ao espírito que luta contra o esquecimento. Que sei eu das mulheres que, na infância longínqua, dirigiram-se, com os seus cântaros de barro avermelhado, ao poço, onde uma roldana cantava, enquanto a corda subia e descia? Apagaram-se, não sei o seu nome, nem quem foram. Puras sombras raptadas para dentro de um caderno de folhas em branco, onde se acumula os vestígios de tudo o que foi tomado pelas hordas do esquecimento.</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-7658532736766010012024-03-05T19:10:00.002+00:002024-03-05T19:10:53.458+00:00Nocturnos 115<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiXim6U2vKgwkMU3sDQiGfNakkeMAC2_Tr7nYqAQEz7siYDCCsGE9QEuVTvGvo5RgoBsx1XwHhNEqOFUvnPjJZJ1lzNnBPVVp7c-jz15AV_vDmEDFsQnO98y8B8bxqN8iWS21Dsse_Ydb-kjwc80_t5VXrD_AU7z1KM_-zk-zlZpf4RFu5sRnXjTgvPhQHp" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="665" data-original-width="800" height="531" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiXim6U2vKgwkMU3sDQiGfNakkeMAC2_Tr7nYqAQEz7siYDCCsGE9QEuVTvGvo5RgoBsx1XwHhNEqOFUvnPjJZJ1lzNnBPVVp7c-jz15AV_vDmEDFsQnO98y8B8bxqN8iWS21Dsse_Ydb-kjwc80_t5VXrD_AU7z1KM_-zk-zlZpf4RFu5sRnXjTgvPhQHp=w640-h531" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><span style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif;">Camille Pissaro - </span><i style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif;">Boulevard Montmartre</i><span style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif;"> </span><i style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif;">- Night</i><span style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif;">, 1897</span></span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">A noite dos <i>boulevards</i> é uma lança de luz contra a escuridão dos céus. Os anjos, confusos, não sabem se ali é noite pontilhada de luzes ou se é dia rodeado de escuridão. Sentam-se nos telhados e olham atónitos o mover-se das onda humanas, naquele espaço onde a paisagem nocturna se mascara de dia, naquelas horas que a perplexidade os afasta da missão de cuidar dos homens.</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-40148157515051795382024-03-04T19:09:00.001+00:002024-03-04T19:09:21.532+00:00X Der Zauberlehrling<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiixE4cKQOHY6lErqXBTyp-AKqXbz_QbqA20UMwLmVvvGxfZsJny0fAJwufxWnwPo-HLDpzVjNNr9Ddt53UFPBPZgwWAXlCPdT4_y4BBgwM92m52d8bip-UQPlN-znjDDYQiciERn_sW9lOA3M0xhrZ2YuiPW5iKVO4OVk3DpBwpn-b1O1ONO5Eonn-RGuq" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="565" data-original-width="800" height="452" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiixE4cKQOHY6lErqXBTyp-AKqXbz_QbqA20UMwLmVvvGxfZsJny0fAJwufxWnwPo-HLDpzVjNNr9Ddt53UFPBPZgwWAXlCPdT4_y4BBgwM92m52d8bip-UQPlN-znjDDYQiciERn_sW9lOA3M0xhrZ2YuiPW5iKVO4OVk3DpBwpn-b1O1ONO5Eonn-RGuq=w640-h452" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Luis Roibal, <i>Aventador, 1952</i></span></td></tr></tbody></table><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">suave cântico de espuma azul<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">onde te escondes se por nós não
passas<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">nas pesadas montanhas mais ao
sul<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">ou no rio lêvedo de pó e garças<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">searas de pedra dura<o:p></o:p></span></i></p><p style="text-align: center;">
</p><div style="text-align: left;"><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;"><i> crescem na noite mais pura</i> </span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px;">[</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: times; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">]</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"> </span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-15361799309637334042024-03-02T17:09:00.005+00:002024-03-02T17:09:46.823+00:00A crise das democracias liberais<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaridVqG0OmfWiZyAmy9w20r944Q7eDiw_axB8FeUpN70_TQ9pd9NYgjfJqEzIoiRVb2CslAuoglYuhNgrWlvu6YfZF9_mET-gknF68u_uGrIB2y1IlT8hyphenhyphenVlfgcedQwjFXwb6APE-kTL5bXZMxLIKEtXiAWLaWdF1IVsZJBBCuku5TUbG9aWurB_UgRWn/s640/Jornal%20Torrejano.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="184" data-original-width="640" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaridVqG0OmfWiZyAmy9w20r944Q7eDiw_axB8FeUpN70_TQ9pd9NYgjfJqEzIoiRVb2CslAuoglYuhNgrWlvu6YfZF9_mET-gknF68u_uGrIB2y1IlT8hyphenhyphenVlfgcedQwjFXwb6APE-kTL5bXZMxLIKEtXiAWLaWdF1IVsZJBBCuku5TUbG9aWurB_UgRWn/w640-h184/Jornal%20Torrejano.JPG" width="640" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">A crise das
democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito
entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, <i>Democratic
Authority – a philosophical framework</i>, o filósofo David. M. Estlund afirma
“A ideia de democracia não é naturalmente plausível”. Recentemente, numa
antecipação da sua biografia a sair em Outubro, o senador republicano Mitt
Romney afirmava que “A experiência da América com a autogovernação está em luta
contra a natureza humana”. De facto, a democracia liberal (a ideia de
autogovernação) parece não estar inscrita na nossa natureza. Uma visão próxima
de Kant poderá argumentar que a democracia liberal é um projecto da razão para
domesticar a nossa animalidade. Não descartando a tese kantiana, prefiro uma
outra, a da relação íntima entre democracia liberal e cristianismo.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">O cristianismo
na sua natureza mais fundamental é uma religião adversa à natureza humana. Se
olharmos para outras religiões percebemos que nascem daquilo que os homens são.
O cristianismo, pelo contrário, propõem uma visão moral que confronta a nossa
natureza, que exige que a superemos. Uma ética fundada em <i>dar a outra face</i>
ou em <i>amar os inimigos</i> está em viva contradição com a natureza humana. O
cristianismo é um programa de luta contra as nossas pulsões mais vivas, como
não se cansou de denunciar Nietzsche. A democracia liberal resulta do próprio
cristianismo, mesmo se igrejas cristãs se lhe opuseram. As correntes políticas
democráticas – conservadorismo, liberalismo e socialismo – são emanações de
diversos aspectos que estavam unidos no cristianismo (a tradição, a liberdade
do cristão e o livre-arbítrio, a igualdade perante Deus). A democracia herdou, da
sua fonte cristã, esse aspecto <i>contra-natura</i>, de que falam Estlund e
Romney.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">As democracias
modernas liberais tremem porque o cristianismo com os seus imperativos <i>contra-natura</i>
está a evaporar-se da consciência dos homens ocidentais, mesmo daqueles (ou em
primeiro lugar desses) que se dizem cristãos ortodoxos e advogam um
fundamentalismo tradicionalista. A democracia liberal, com as suas regras de
reconhecimento do adversário político e da admissão de que ele tem direito a
governar, só é possível num mundo onde <i>dar a outra face</i> e <i>amar os
inimigos</i> faça sentido e condicione as consciências, mesmo a dos não
crentes. Quando isso desaparece, como está a desaparecer, quando a sociedade se
converte a um neopaganismo como se está a converter, e como se converteu na
Itália fascista e na Alemanha nazi, a democracia liberal perde o seu fundamento
e entra na crise a que assistimos.</span></span></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-68684337464263111982024-02-29T14:11:00.007+00:002024-02-29T14:13:30.942+00:00Eleições e segurança<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwFwYs4-zoRGnglof_X36cJ3lvZ9hU5kacIZa_X6tM6FYAByV4eIcU6p5VQ2Cmt1jvgX7RsbFmI6t5lCJLfWA0QK_r9X5p3kpAZGNSKHGctEk6ahf2r-TbVFFIcsBQivN0wCFp8sWWhww9Vvbg2GjN_O36i2x8FWVHgdzl_RA4vDDy7JU5FnwVZAgJ-6kx/s637/A%20Barca.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="142" data-original-width="637" height="142" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwFwYs4-zoRGnglof_X36cJ3lvZ9hU5kacIZa_X6tM6FYAByV4eIcU6p5VQ2Cmt1jvgX7RsbFmI6t5lCJLfWA0QK_r9X5p3kpAZGNSKHGctEk6ahf2r-TbVFFIcsBQivN0wCFp8sWWhww9Vvbg2GjN_O36i2x8FWVHgdzl_RA4vDDy7JU5FnwVZAgJ-6kx/w640-h142/A%20Barca.PNG" width="640" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Estamos em
campanha eleitoral e as questões mais importantes para o país não merecem
qualquer atenção dos candidatos. Essas questões estão relacionadas com a
segurança, a interna e a externa. Os candidatos preferem os jogos florais em
torno de irrelevâncias, como a da avó de Mariana Mortágua ou os tiros de
Famalicão, ou aquilo que imaginam que os eleitores querem ouvir, como as
mirabolantes promessas sobre as pensões ou a de um contínuo crescimento
económico, como se existissem vários planetas Terra disponíveis para os nossos
desejos. Contudo, os problemas de segurança interna e externa são bem mais
preocupantes para a vida das pessoas, mesmo que estas não o percebam, do que o
crescimento da economia, as pensões, os impostos e os salários.</span></span></div>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">O problema da
segurança interna não reside em termo-nos transformado num país inseguro. A
insegurança nasce do comportamento das próprias forças de segurança, do seu
afrontamento ao poder político legitimamente constituído. O caso da
manifestação perante o Capitólio, no dia do debate entre Pedro Nuno Santos e
Luís Montenegro, foi o sinal decisivo de que a autoridade do Estado está a ser
escavada, politicamente escavada. Também a ameaça dos militares entrarem em
protestos é um inadmissível desafio à ordem constitucional e à segurança
interna. Pode-se compreender que polícias e militares estejam descontentes com
as suas remunerações, o que não os diferencia da restante função pública. O que
não se compreende é o desafio à autoridade do Estado daqueles que têm a função de
velar por ela.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Os
desenvolvimentos geopolíticos trazidos pela invasão da Ucrânia e a possível
vitória de Donald Trump nas eleições de Novembro, nos EUA, estão a pôr em causa
os fundamentos da defesa externa de Portugal, assente na NATO. O fim da NATO,
ou uma versão desta sem empenho dos EUA, tornará toda a Europa, Portugal
incluído, um alvo apetecível de potências inimigas, mesmo daquelas que estão em
silêncio, contidas pela existência da NATO. Que papel, por exemplo, seria o da
Turquia num mundo sem a NATO, a que ela pertence? Que pretensões poderia
acalentar? A questão da segurança externa, aliado à da segurança interna, é o
principal problema que o país enfrenta e não a questão das pensões, dos
salários, dos impostos. Discutir o futuro das Forças Armadas e o da afronta à
ordem pública e constitucional são assuntos vitais para o país, mas aqueles que
querem governar preferem ignorá-las, pois escaldam e não dão votos. Preferem os
jogos florais e a tômbola das promessas.</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">P.S. O artigo foi escrito ainda antes de Pedro Passos Coelho ter estabelecido relação entre imigração e insegurança, contribuindo desse modo para o crescimento da insegurança.</span></span></p><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-44884533867603325672024-02-27T15:02:00.000+00:002024-02-27T15:02:17.213+00:00Comentários (16)<p style="text-align: center;"></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj3nc6qdFnmPl_VNqhyjUim2wfjrUUyfg1UqdnsVgFEQYt4F7PXvCbdG3BfNQVmEO2KuwHkzzJ-lDCCpxwBI8xW5sosI01IiGwu3_G9Rfh_neHNnoCwCbnTmQTLMeYV5CjzmvNcmeTkuyYOsEFlNkeambHJRxCV82Vd8vQT8j1cFz9J37WMB0RDiJdsxu47" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="480" data-original-width="473" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj3nc6qdFnmPl_VNqhyjUim2wfjrUUyfg1UqdnsVgFEQYt4F7PXvCbdG3BfNQVmEO2KuwHkzzJ-lDCCpxwBI8xW5sosI01IiGwu3_G9Rfh_neHNnoCwCbnTmQTLMeYV5CjzmvNcmeTkuyYOsEFlNkeambHJRxCV82Vd8vQT8j1cFz9J37WMB0RDiJdsxu47=s16000" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Fernando Lemos, <i>Coisas de Vidro, </i>1949 (<a href="https://gulbenkian.pt/cam/works_cam/coisas-do-vidro/">Gulbenkian</a>)</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: right;"><i><br /></i></div><div style="text-align: right;"><i><span style="color: #274e13;">Escutámos este nome: as mónadas. Depois</span></i></div><div style="text-align: right;"><i><span style="color: #274e13;">imaginamo-las. Eram como o pólen</span></i></div><div style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Fernando Guimarães</span></div><div style="text-align: right;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Esses nomes nascidos da pura fantasia, inventados num sonho onde se deambula pela antiga Grécia e se escutam aquelas palavras que chegaram até nós destituídas de som, apenas traços inscritos numa matéria do mundo, sinais de combate ao esquecimento, esses nomes florescem naqueles territórios onde os homens, pensando, deambulam à procura da sua casa, de um sinal que lhes permita antever, no turbilhão das coisas quotidianas, a perfeição do mundo que haveria de caber a quem pensa. Então, pegamos neles e plantamo-los no mais belo dos jardim, até que floresçam e atraiam o zumbido das abelhas que, extasiadas, colherão até ao último grão o pólen que há-de fazer nascer novos mundos.</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-7551535195176085452024-02-25T11:07:00.003+00:002024-02-25T11:07:22.363+00:00Ensaio sobre a luz (114)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgzvqKhO8x6O8e7Y1L3FL8MD9e_qouirKMY_9o_IxJCVbjNaQoriT6Z5SaZpH_5N6AKKLtM2GgkiMjenMSsSYjgcnVwxceNEC_rOkH9sM9iGDq9AKzs-D5wNg7X_RVbmjBgpbTZkeZ_1RdmTTvLgrBAPNMoa7HMeawp1CdxT8m8yMYtbXVe_9c40716bwnt" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="463" data-original-width="640" height="464" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgzvqKhO8x6O8e7Y1L3FL8MD9e_qouirKMY_9o_IxJCVbjNaQoriT6Z5SaZpH_5N6AKKLtM2GgkiMjenMSsSYjgcnVwxceNEC_rOkH9sM9iGDq9AKzs-D5wNg7X_RVbmjBgpbTZkeZ_1RdmTTvLgrBAPNMoa7HMeawp1CdxT8m8yMYtbXVe_9c40716bwnt=w640-h464" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Emil Nolde, <i>Lake Lucerne</i>, 1931-34</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-family: georgia; line-height: 195%;">Estamos ainda longe de compreender a gramática que ordena a luz e mais distantes estamos de prescrutar a semântica dos fenómenos luminosos. Quanto mais e melhor os explicamos, menos os compreendemos, pois a luz não é um segredo, um enigma, mas um mistério que não se abre ao desejo do corpo ou à razão do espírito.</span></span></div><br /><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-19817158921802452622024-02-23T17:17:00.000+00:002024-02-23T17:17:00.161+00:00IX Vertige<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhcPioHTIm9UXYh7Twdjk_hzRLmRCqddXBgJA8ZBSRpqyxaoa4DavUPsxxkk6zs3D93i_IvL2G_xHHJxohqJNnI_KyICJTqnVr2xc8G2skDvBeDu7BiDJ629XzWV1oONmgxn8s6sXdgtOV5MSWS8uA27viY5a4shDrHPUeL1kORBBeTVcMKaQA3AbfyprWm" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="569" data-original-width="800" height="456" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhcPioHTIm9UXYh7Twdjk_hzRLmRCqddXBgJA8ZBSRpqyxaoa4DavUPsxxkk6zs3D93i_IvL2G_xHHJxohqJNnI_KyICJTqnVr2xc8G2skDvBeDu7BiDJ629XzWV1oONmgxn8s6sXdgtOV5MSWS8uA27viY5a4shDrHPUeL1kORBBeTVcMKaQA3AbfyprWm=w640-h456" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Thomas Moran, <i>Shoshone Falls, Snake River, Idaho,</i> 1875</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: left;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">da velada ravina adio o salto</span></i></div><p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">vê-se do rio raivoso a fria
margem<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">sobe-se mais além e mais alto<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">no céu duma estrela há imagem<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 215%;"><i>na noite negra do rio<o:p></o:p></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;"><i>pássaros ao desafio</i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><span style="line-height: 195%;"><i><br /></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0t; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 0px;"><span style="line-height: 195%;"><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px;">[</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: times; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">]</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"> </span></span></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-34360514843257303572024-02-21T13:55:00.001+00:002024-02-21T13:55:22.279+00:00Mitt Romney e o autogoverno em perigo<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi17xc4TX14Dlf18p1NyxMKtC95d-XvTrG42o960FBzQ3ztiWKrvoIZ3lHvdohoWMBHXRMWwWnDZPegksprZn-8S6x4dqUgfQA0SmLG6QUVD-xvithtbNG4QU1a7EBugzMg2nm5OBFxXKd7yE3DJE9gU9aPGwHnUw1qB_T_Qyb6T50R5FWyiqhEVICMZk0p" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="800" data-original-width="601" height="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi17xc4TX14Dlf18p1NyxMKtC95d-XvTrG42o960FBzQ3ztiWKrvoIZ3lHvdohoWMBHXRMWwWnDZPegksprZn-8S6x4dqUgfQA0SmLG6QUVD-xvithtbNG4QU1a7EBugzMg2nm5OBFxXKd7yE3DJE9gU9aPGwHnUw1qB_T_Qyb6T50R5FWyiqhEVICMZk0p=w300-h400" width="375" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Francis Bacon, <i>Man Turning on the Light,</i> 1973-74</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;">O senador republicano Mitt Romney coloca, na biografia que irá lançar em Outubro (<a href="https://www.publico.pt/2023/09/14/mundo/noticia/romney-afastase-senado-desiludido-partido-preocupado-democracia-eua-2063308">aqui</a>), o problema Donald Trump de um modo interessante: <i>A experiência da América com a autogovernação está em luta com a natureza humana. O autoritarismo é como a gárgula que está de vigia na catedral, pronta para atacar</i>. A referência à <i>natureza humana</i> é central. Uma das críticas que desde sempre se fez ao comunismo foi a sua perspectiva ideológica estar em conflito com a natureza humana. Haverá na natureza da humanidade uma inclinação egoísta, ao contrário do que pensam os comunistas, que vêem essa característica como fruto da sociedade e da educação. Essa natureza centrada em si tornaria o comunismo uma utopia, cuja realização implicaria uma violência desmedida sobre a natureza humana. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;">O que Mitt Romney diz vai mais longe. Não apenas uma visão social igualitarista do homem está em contradição com a sua natureza, como a visão liberal, a do autogoverno, choca com essa mesma natureza. Parte do eleitorado americano - e dos políticos republicanos - não suporta uma sociedade onde cada um tem a responsabilidade por si mesmo e age de acordo consigo. O eleitorado republicano nos EUA, mas também parte significativa do eleitorado europeu, incluindo o português, anseia por um homem forte, que o liberte da carga da responsabilidade. O que pretende, para usar a terminologia de Michel Foucault, é o regresso de um poder pastoral. Anseia por alguém que pastoreie o rebanho, cuide de cada ovelha e governe a sua vida, dispensando-o dessa tarefa terrível de pensar por si mesmo. Estamos num tempo em que <i>a menoridade culpada</i>, nas palavras de Kant, se traduz em votos e em projectos de regimes políticos. Contudo, e talvez isso seja o mais surpreendente, o que esses eleitorados desejam é uma espécie de comunismo. Não de natureza social, mas um comunismo existencial que se exprime na ideia de rebanho. Isto ajuda a explicar a razão por que, na Europa do Sul, se tem assistido à transferência dos eleitorados comunistas para a esfera da extrema-direita.</span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-84388765968158617652024-02-19T16:42:00.003+00:002024-02-19T16:42:44.941+00:00Simulacros e simulações (60)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgmHH_BKES35Bbdnw-QbB1MwIagNNkN7-cXWuJZqnkATn5gCt-c02JqWrryl_mw3hM4tZcjyViHAb_obDzOTAempnLxLH-TwVFz-SPUwyaaRWcShEVPinwFj0xceLkQPq5YBFYoyPiKfEExEO8bGF0_zAT3v7zpe7j9zzQ04O3kWoskc9z8hrrI4EacCBXL" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="443" data-original-width="640" height="444" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgmHH_BKES35Bbdnw-QbB1MwIagNNkN7-cXWuJZqnkATn5gCt-c02JqWrryl_mw3hM4tZcjyViHAb_obDzOTAempnLxLH-TwVFz-SPUwyaaRWcShEVPinwFj0xceLkQPq5YBFYoyPiKfEExEO8bGF0_zAT3v7zpe7j9zzQ04O3kWoskc9z8hrrI4EacCBXL=w640-h444" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Fernando Azevedo, <i>Composição</i>, 1958</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Sempre o criador simula em si, no fundo do seu ser, a criação. É uma trabalho lento, marcado pela hesitação. Por vezes, vacila sobre a natureza da matéria, outras interroga-se duvidoso acerca da forma que lhe vai dar. O trabalho de criação, porém, não pára. Prossegue incauto nos rios subterrâneos da imaginação, alimenta-se nas fontes da memória e na foz da expectativa. Corre de simulacro em simulacro, até se tornar um mundo novo.</span></span></div><br /><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-20165206745097646912024-02-17T11:54:00.000+00:002024-02-17T11:54:01.671+00:00Este não é o meu mundo<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMgUCPlkjADn1plp47qpx0x5l2I3gQzLs7zLF_JKBfeB22TYe0P1Z3SWIF1fILslM-nYU5zbGY8-qk6neGj7FVESZTgp4fkgucAquA-w5Rb7RL-JS2gh8cMH_vwB0SEQ3p86bSKePS0vBdFzOVz4Z3Pc_XTo6m_poMm3ngQcCW-yO1zBUk6n8ZT3dRDd1m/s640/Jornal%20Torrejano.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="184" data-original-width="640" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMgUCPlkjADn1plp47qpx0x5l2I3gQzLs7zLF_JKBfeB22TYe0P1Z3SWIF1fILslM-nYU5zbGY8-qk6neGj7FVESZTgp4fkgucAquA-w5Rb7RL-JS2gh8cMH_vwB0SEQ3p86bSKePS0vBdFzOVz4Z3Pc_XTo6m_poMm3ngQcCW-yO1zBUk6n8ZT3dRDd1m/w640-h184/Jornal%20Torrejano.JPG" width="640" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;">Hoje, domingo,
dia em que escrevo, tive não apenas a sensação, mas a certeza de que este mundo
já não é o meu. Esse a que chamei meu acabou. Não sei bem qual foi a hora em
que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás. Penso
agora nisso e não consigo perceber como e quando o meu mundo morreu, e um
outro, ao qual não pertenço, nasceu, principiou a balbuciar e a gatinhar,
depois a erguer-se sobre as pernas, a andar e a fazer-se ouvir, com uma voz
cada vez mais alta. Havia sinais, mas pareciam coisas sem sentido, a princípio
nem lhes dava importância. Por exemplo, a falência das antigas regras de
tratamento. Não se tratava um homem desconhecido por senhor Jorge, mas por
senhor Maia. Era o último nome que indicava uma pertença e constituía a
identidade. Quando a moda do primeiro nome começou, talvez já o meu mundo
estivesse moribundo.</span></span></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;">Esta sensação
de não se pertencer ao mundo em que se vive não é inédita. Contudo, cada um tem
a sua experiência e é essa que conta para ele. O meu mundo começou antes de eu
nascer. Começou em 1945, com o fim da segunda grande guerra. Nasci nele e fui
por ele moldado, mesmo se vivi muitos anos num país que estava fora do mundo
que existia. Esse mundo que me acolheu fugia de um outro tenebroso. Trazia uma
promessa de liberdade, que demorou, como tudo, a chegar a Portugal. Havia nele
um conjunto de valores e de perspectivas do que era uma vida digna de ser
vivida, tanto ao nível moral como político. Havia também a ilusão, vejo-o
agora, de que esse mundo tinha um grande futuro diante de si. Nós que vivíamos
nesse mundo fugíamos das trevas e não sabíamos que nos estávamos a dirigir de
novo para elas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="line-height: 195%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Aqueles que
viveram, em 1974, quase trinta anos depois, a chegada do mundo que começara em
1945, lembram-se que as grandes figuras políticas de então, apesar de
defensoras de um regime de liberdade, eram figuras graves<i>.</i> Tinha-se a
percepção de que elas estavam seriamente preocupadas com o rumo da comunidade.
Não sei bem quando isso se perdeu, mas talvez tenha sido no início deste
milénio. Esse mundo da <i>gravitas </i>política está morto. Talvez tenha
morrido quando deixei de ser o senhor Maia e passei a ser o senhor Jorge. Um
mundo em que apenas os <i>clowns</i> fascinam o eleitorado, onde gente sem
programa, a não ser aproveitar a liberdade para a matar, nem ideias sobre o
país é idolatrada pelas novas gerações já não é o meu mundo. Vivemos já, estou
convicto, num mundo tenebroso, onde os <i>clowns</i> ainda não estão no poder,
mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede
de sangue e miséria.</span><o:p></o:p></span></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-677720701478532132024-02-15T14:38:00.004+00:002024-02-15T21:59:51.077+00:00O projeto do Chega<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh9XmAnjZDVDRt1m_F7eNdR7d3mhHY5iYAsgvUJnFa_YSSMQctilK4DoXRmaPbjWr_g_kRcTaRSQTrPMXf98-XVn1SMzpR7JPsXQTOcFVgWIgHWeFxFDnc8c1F5sEgbpqbMZYuvWTr_pGHUFetOWR8ltQZkw1dnRZaVPgK0DLO98t95q1AMijkFYxurXOdh" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="1033" data-original-width="1550" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh9XmAnjZDVDRt1m_F7eNdR7d3mhHY5iYAsgvUJnFa_YSSMQctilK4DoXRmaPbjWr_g_kRcTaRSQTrPMXf98-XVn1SMzpR7JPsXQTOcFVgWIgHWeFxFDnc8c1F5sEgbpqbMZYuvWTr_pGHUFetOWR8ltQZkw1dnRZaVPgK0DLO98t95q1AMijkFYxurXOdh=w640-h426" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Foto encontrada <a href="https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/tem-de-haver-um-acordo-de-governo-as-condicoes-de-ventura-para-viabilizar-governo-do-psd?utm_source=SAPO_HP&utm_medium=web&utm_campaign=destaques">aqui</a></span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Consta que esta foto foi tirada quando o líder do Chega e cerca de uma centena de apoiantes se preparavam para fazer um vídeo, no dia de Carnaval, para a campanha eleitoral nas redes sociais. É possível que nem os simpatizantes, nem os militantes do Chega, nem o próprio André Ventura percebam o que a fotografia diz. Tem duas mensagens políticas muito fortes e pouco agradáveis. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Em primeiro lugar, é a natureza narcísica da liderança do Chega. A política para André Ventura é um espelho para que ele se possa contemplar. Há um culto da personalidade que lembra não apenas Donald Trump, mas figuras como Estaline, Mussolini, Hitler, Mao Tse-Tung ou os déspotas da Coreia do Norte. Mesmo nos políticos democráticos, existe um forte narcisismo, contudo nunca chega ao fomento do culto da personalidade. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">A segunda mensagem está relacionada com o modo como o líder do Chega parece ver a sociedade. A sociedade é vista como um terrível, o mais terrível, igualitarismo. A esquerda defendeu, e defende ainda que de forma mais mitigada, um igualitarismo social e económico. Aquilo que vemos na fotografia é um igualitarismo existencial, a anulação da diferença que o rosto de cada um significa. O projeto do Chega é o da eliminação da identidade pessoal, para que todos sejam à imagem e semelhança do querido líder.</span></span></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-6183080867163684012024-02-13T12:41:00.002+00:002024-02-13T12:41:35.072+00:00VIII Fem<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjzZ_YyVA6dF5ba4jYE--6KdVTwkm3I6eIifEokithGFQ_DswgQ_gDstspB5YuMNrvXupER_1WRB3rzhyC3SaQ4N9a_9vNJjRJHwHM18Nj4avS8owjrylPwT0vMMVayLjVy36lolWNIwd8qMVzAJLPOUWlpZ7dGsQUUMfbSRoRflFaGPzgOt-RphLlW1iiH" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="398" data-original-width="640" height="398" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjzZ_YyVA6dF5ba4jYE--6KdVTwkm3I6eIifEokithGFQ_DswgQ_gDstspB5YuMNrvXupER_1WRB3rzhyC3SaQ4N9a_9vNJjRJHwHM18Nj4avS8owjrylPwT0vMMVayLjVy36lolWNIwd8qMVzAJLPOUWlpZ7dGsQUUMfbSRoRflFaGPzgOt-RphLlW1iiH=w640-h398" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Albertina Mântua, sem título, 1958 (<a href="https://gulbenkian.pt/cam/works_cam/s-titulo-146968/">Gulbenkian</a>)</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: left;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">rolam bravias as flores desta
tarde</span></i></div><p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">amarelas desenham melodias<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">onde um anjo trémulo as guarde<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">nas noites que parecem claros
dias<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><o:p><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></o:p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><i><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="color: #660000; line-height: 195%;">um mar de cinza silente<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><i><span style="color: #660000; line-height: 195%;">abre-se à luz de repente</span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><i><span style="line-height: 195%;"><br /></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px;">[</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: times; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">]</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: Georgia, Utopia, "Palatino Linotype", Palatino, serif; font-size: 15.4px;"> </span></span></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-68017560775718485672024-02-11T11:19:00.000+00:002024-02-11T11:19:02.412+00:00Nocturnos 114<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhNGU1VcngUXhYjzwcsOeNlkqf8Fs3GFYNu1HkK9joafJSuAUDfaOpZU0BRlvCEFycVoc1KAfk74fTCwlaeiSH83qpnmF4wPen1BxoTAMWgc3YpKyGwLRQPjQdYui_kp_0WhD42fH_QBsaWqcgHxg7Md1aXBG5Bjq6TeAM2bRjmOJLbVJVbFeUtJu0qYCvv" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="719" data-original-width="896" height="514" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhNGU1VcngUXhYjzwcsOeNlkqf8Fs3GFYNu1HkK9joafJSuAUDfaOpZU0BRlvCEFycVoc1KAfk74fTCwlaeiSH83qpnmF4wPen1BxoTAMWgc3YpKyGwLRQPjQdYui_kp_0WhD42fH_QBsaWqcgHxg7Md1aXBG5Bjq6TeAM2bRjmOJLbVJVbFeUtJu0qYCvv=w640-h514" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Aert Van Der Neer, <i>Nocturnal Canal Landscape with Fishing Boats</i>, c. 1645-1659</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">A noite deixar cair os seus raios sobre a paisagem rasgada pela água. Homens e barcos esperam a hora em que o excesso de silêncio lhes abra o caminho para casa, carregados de peixes e solidão, presos às fantasias que a Lua faz germinar no coração dos que, sob o seu império, se entregam ao desvario de matar a eterna necessidade.</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-9561864231340356032024-02-09T18:39:00.001+00:002024-02-19T16:47:30.270+00:00Uma alucinação<p style="text-align: center;"></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhFSl9Oewv7u2zKtJi1RjsOZfqAdPvaddDcQ_YCyygWDfBx4XTJj6gbQttdoggBdigdTDY_AOzwMfaoEHHBsNtD-1tUDBQVQBilS5K6juOWbVNiQCwDQswhU3pUjyqvTWnZRICd7wNMebGsbEatDhX8ms0ZiayV1TQzxwYTlnkHWyC0NEF3JBTO-4uEbhMU" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="480" data-original-width="360" height="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhFSl9Oewv7u2zKtJi1RjsOZfqAdPvaddDcQ_YCyygWDfBx4XTJj6gbQttdoggBdigdTDY_AOzwMfaoEHHBsNtD-1tUDBQVQBilS5K6juOWbVNiQCwDQswhU3pUjyqvTWnZRICd7wNMebGsbEatDhX8ms0ZiayV1TQzxwYTlnkHWyC0NEF3JBTO-4uEbhMU=w300-h400" width="375" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Bartolomeu Cid dos Santos, <i>Velhos guerreiros tentando iludir o medo</i> (<a href="https://gulbenkian.pt/cam/works_cam/velhos-guerreiros-tentando-iludir-o-medo-141476/">Gulbenkian</a>)</span></td></tr></tbody></table><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 195%;">A certa altura da entrevista dada hoje ao <a href="https://www.publico.pt/2024/02/09/culturaipsilon/entrevista/helia-correia-escrevo-forma-completamente-cega-2078872">Público</a>, a escritora Hélia Correia fala do medo, do medo que a invadiu ao escrever um dos seus contos. Diz "Agora tenho um medo muito concreto - temos todos, ou quase todos, creio". A jornalista pergunta-lhe: "Refere-se à emergência de fascismos, da violência de multidões arrastadas por ideologias extremistas?" "Sim. As multidões cegas destroem tudo à sua passagem. É uma espécie de alucinação, porque é sempre um processo muito pouco racional." Em poucas palavras Hélia Correia expressa o que está em causa nesta onda de populismos, a alucinação. Veja-se o caso do Chega em Portugal. O crescimento vertiginoso nas sondagens é o resultado de uma alucinação. Tem propostas coerentes para governar Portugal? Não. Os seus membros e dirigentes têm um comportamento razoável nas instituições? Não. André Ventura pode dizer de manhã uma coisa e à tarde o seu contrário, sem que isso afecte à atracção que exerce? Pode. Há uma cegueira nas pessoas que não querem ver aquilo que é visível ali. Vêem o que não está lá. É uma forma de alucinação colectiva. Não é a primeira que ocorre. Da alucinação à destruição de tudo o que importa é um passo, talvez mais pequeno do que se imagina.</span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-39159678399538122962024-02-07T17:23:00.002+00:002024-02-07T17:23:25.759+00:00Ensaio sobre a luz (113)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhEvc1Yo0GwePaz38mK0qXm6NQvwj7A99A9vQ-Zyur6MiGNEtXWudQNLQmT1LEZDxfh90zXKhEIZOA15TfEupj61BJXdOqhlcHATFVNYJmDqEEUhQtNemVDGu6SzGth8t8gADy4HYISYKIxxGMNiSBmSuOwDbKxz0s_1EOi9I-1ihjC1GtR5IC50jGun7Bs" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="611" data-original-width="1078" height="362" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhEvc1Yo0GwePaz38mK0qXm6NQvwj7A99A9vQ-Zyur6MiGNEtXWudQNLQmT1LEZDxfh90zXKhEIZOA15TfEupj61BJXdOqhlcHATFVNYJmDqEEUhQtNemVDGu6SzGth8t8gADy4HYISYKIxxGMNiSBmSuOwDbKxz0s_1EOi9I-1ihjC1GtR5IC50jGun7Bs=w640-h362" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Jan Van Goyen, <i>Village Street</i>, 1628</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">O dia ergue sobre a aldeia jardins de luz e lagos saturados com a esperança de cada dia. Os homens sentam-se à beira da estrada e respiram lentamente, enquanto conversam, traçando o mapa onde viveram a despreocupação da infância, reinventando o secreto caminho que, sob o fluido luminoso dos céus, os trouxe à pétrea madeira do presente.</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-27741815178246721062024-02-05T17:32:00.002+00:002024-02-05T17:32:44.269+00:00A campanha eleitoral<p></p><div style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXO57ahxA86SatrlPwKaVFGOaQGIiReAA0mA3wMvbaZt9mSxO2rUqokU8XaB9uYhbF15wzhmFt3a1bINajm7Sx7JP0rrZLd6SbLloWn5R-uwn7_0vUsSU41f-UBYfqwin0kL-WyWhi8Mcz8F77kl5h6PLnLXZ9Azcq4ZzbKlM1TW2PhYoqzlGNf6HDqyw0/s640/Jornal%20Torrejano.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="184" data-original-width="640" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXO57ahxA86SatrlPwKaVFGOaQGIiReAA0mA3wMvbaZt9mSxO2rUqokU8XaB9uYhbF15wzhmFt3a1bINajm7Sx7JP0rrZLd6SbLloWn5R-uwn7_0vUsSU41f-UBYfqwin0kL-WyWhi8Mcz8F77kl5h6PLnLXZ9Azcq4ZzbKlM1TW2PhYoqzlGNf6HDqyw0/w640-h184/Jornal%20Torrejano.JPG" width="640" /></a></div><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Pede-se que as
campanhas eleitorais sejam esclarecedoras, o que pressupõe a existência de um
público a ser esclarecido. Esta ideia de esclarecimento está ligada à ideia de
verdade. Esclarecer significa permitir aos eleitores o acesso à verdade. Se as
campanhas eleitorais visassem o esclarecimento e, através dele, o acesso à
verdade, então elas tornar-se-iam numa espécie de encontros filosóficos, nos
quais os vários agentes políticos se empenhariam, de modo cooperativo, a
eliminar os erros para que a verdade brilhasse. Esta ideia é absurda. As
campanhas eleitorais não visam a verdade, mas o convencimento. Os políticos não
querem esclarecer os eleitores, mas persuadi-los a votar no seu partido, a
sufragar o seu programa para poderem chegar à governação. Isto é assim, porque
a verdade não é o que está em jogo na política.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Para o cidadão,
o que está em jogo na política é a justiça. Contudo, uma concepção de justiça
não é mais verdadeira que outra. Um partido que defenda que é injusto cobrar
impostos progressivos (quanto mais rendimentos, maior percentagem de impostos
se paga) para auxiliar os mais desfavorecidos não tem uma posição mais
verdadeira do que um outro partido que se proponha cobrar impostos
progressivos, para que a sociedade seja menos desigual. Não se pode afirmar que
uma destas ideias de justiça é mais verdadeira que a outra porque não existe
nenhuma definição universal de justiça que informe de modo absoluto o que ela é.
Os cidadãos vão escolher uma ou outra baseados ou no seu interesse pessoal ou
no seu sentimento particular do que é a justiça, mas não porque a campanha
eleitoral o informa da verdade. O que ela faz é persuadir os eleitores apelando
aos interesses e sentimentos pessoais.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Para os agentes
políticos, o que está em jogo é o poder, alcançá-lo ou não o perder. Isto não
significa que os políticos não tenham ideias e visões políticas sobre o que é a
sociedade justa. Significa apenas que sem o poder qualquer visão política é
impotente. Os políticos, na campanha eleitoral, não estão preocupados com a
verdade, mas com o poder. Agirão para o conquistar. A sua acção não quer
esclarecer os eleitores do que é a verdade dos assuntos políticos, mas
convencer que são os melhores para realizar os interesses dos eleitores ou para
satisfazer os seus sentimentos sobre o que é a sociedade mais justa. Em caso
nenhum, porém, a campanha eleitoral tem alguma coisa que ver com a verdade. Na realidade,
é um exercício publicitário de manipulação das consciências, sendo uns
políticos mais boçais, sendo outros mais sofisticados.</span></span></p></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-13694024175734882362024-02-03T15:13:00.003+00:002024-02-13T14:23:57.248+00:00VII Galamb Borong<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgpVJGyY0O-WAw8BcvcOQKqr032xLdzcuB2mo1ORl3q5QytZewwCVpe9mVqLnjjE2giZbN3eySAlkBekTcArsAhipw_nUAY_l8hcpMdDJMs07DTHFhkxG-Wl5SE1Y6Pp08Wv9Fas0bwz0n3KGAXDrLSEhMFKVjtT1tST15HkbOY-lB4rUI-LOrqUhqSEgD7" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><img alt="" data-original-height="639" data-original-width="800" height="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgpVJGyY0O-WAw8BcvcOQKqr032xLdzcuB2mo1ORl3q5QytZewwCVpe9mVqLnjjE2giZbN3eySAlkBekTcArsAhipw_nUAY_l8hcpMdDJMs07DTHFhkxG-Wl5SE1Y6Pp08Wv9Fas0bwz0n3KGAXDrLSEhMFKVjtT1tST15HkbOY-lB4rUI-LOrqUhqSEgD7=w640-h512" width="640" /></span></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: georgia;"><span style="font-size: x-small;">Caspar David Friedrich, <i>Árbol con cuervos</i><br /></span><br /></span><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">grasnam os negros corvos na
cidade<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">o peso se desfaz ao bater da
asa<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">um deus os retirou da gravidade<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;">como se o céu do corvo fosse
casa<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;"><i><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium;"> </span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><span style="color: #660000; font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 215%;"><i>se em ondas altivas cantam<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 35.4pt;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium; line-height: 215%;"><i><span style="color: #660000;">os corvos à noite espantam</span><o:p></o:p></i></span></p></div></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: left;"><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px;">[</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: times; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007</span><span style="background-color: #fffbf5; font-family: arial; font-size: 15.4px; line-height: 30.03px;">]</span> </div><br /><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-70190282289079929922024-02-01T10:16:00.001+00:002024-02-01T10:16:08.798+00:00A nova radicalização dos jovens<p></p><div style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHEMeCTjMPEi_KS50Y484owzbPR9tG_BkZb32phNA_ZFU9jDWgt57VcS4w-hjms5P4ZCDXManiT8r2XgixQmztp6bNw5YCSKsvZ5UT9m07cTkRMziTru0xN0eHlDlI0SgbVW8vyq00B9oIlWhqyIs96maKbdURQJMfhSm5yvgbIN8nZtYz3XmdqktlzkJe/s637/A%20Barca.PNG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="142" data-original-width="637" height="142" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHEMeCTjMPEi_KS50Y484owzbPR9tG_BkZb32phNA_ZFU9jDWgt57VcS4w-hjms5P4ZCDXManiT8r2XgixQmztp6bNw5YCSKsvZ5UT9m07cTkRMziTru0xN0eHlDlI0SgbVW8vyq00B9oIlWhqyIs96maKbdURQJMfhSm5yvgbIN8nZtYz3XmdqktlzkJe/w640-h142/A%20Barca.PNG" width="640" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Parece existir
um fenómeno de atracção entre os jovens – fundamentalmente, do sexo masculino –
pelo Chega. Estamos perante uma radicalização política de parte das novas
gerações. O que as mobiliza é o extremismo das propostas, a contestação do
outro, a oposição à igualdade das mulheres (um aspecto relevante na
radicalização dos rapazes), o questionar das instituições democráticas e da
própria democracia liberal, a coreografia e os rituais políticos, a continua
transformação de adversários políticos em inimigos. Pertenço a uma geração que,
na sua juventude, há cinquenta anos, se radicalizou politicamente, defendeu
utopias e soluções políticas que, se aplicadas, seriam tenebrosas, como serão
tenebrosas as soluções políticas da extrema-direita. Haverá entre ambas as
radicalizações alguma diferença?</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Há uma
diferença moral acentuada. Os motivos da radicalização são muito distintos. A
radicalização da minha geração foi feita em nome de um mundo melhor, onde as
injustiças não tivessem lugar. Foi feita em nome da emancipação das pessoas, da
igualdade da mulher, do direito dos povos à sua autodeterminação, da abolição
do peso que a classe social de origem tinha no destino de cada um. As nossas
soluções eram más, odiosas, como viemos a descobrir, mas aquilo que nos levava
à acção política era ainda uma reverberação da moral cristã, na qual muitos de
nós, apesar de ateus na época, tínhamos sido educados. Procurávamos o bem da
comunidade, não o nosso próprio bem. Tínhamos a ilusão de poder construir o céu
na terra. Havia em nós um impulso metafísico para criar um mundo onde o mal
fosse abolido.</span></span></p><p style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 195%;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;">Quando olhamos para as causas da extrema-direita,
causas que seduzem tantos jovens, percebemos o grau de decadência a que chegou
a influência da moral cristã. Por muito que os dirigentes do Chega vão à missa
e se benzam, o que defendem está em profunda contradição com essa moral. Não é
por acaso que o actual Papa é odiado em muitos sectores da extrema-direita. A
atitude perante os imigrantes, o racismo latente, ou manifesto, no discurso, o
ódio ao outro, um machismo mais ou menos manifesto, a tentativa sistemática de
enlamear os actores políticos de outras áreas, o apelo a um nacionalismo
perigoso, a negação daquilo que na nossa história há de obscuro e humilhante
para os outros, tudo isto são causas moralmente inaceitáveis. São causas que
deveriam envergonhar as pessoas, mas que as mobilizam. Esta é a grande
diferença entre o radicalismo das duas gerações de jovens radicais. A primeira
era má pelas suas consequências, mas não pelas suas intenções. A actual é má
também pelas suas intenções. E isso é muito preocupante.</span></span></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1933419496912005101.post-81622382527713292772024-01-30T11:13:00.001+00:002024-01-30T11:13:58.758+00:00Beatitudes (65) Canto sagrado<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhV65KFWMH62n4_V7RNsWETRdwWgnuNGCvw53PqVxzWPkzwhSVBZpAD-oAooXsAp3YA3j-ef3atwvLpV4m_pUCd92cCfRfbP8ordevWoXoVU4_fZZOG_9qNW9DHZ_2rxK_OS1K0WDE8j3pYmyIWBMg0YtKPnYflQjp1Vqw5lPTAVrpS08NfP6kEnrqoeCw2" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="451" data-original-width="600" height="482" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhV65KFWMH62n4_V7RNsWETRdwWgnuNGCvw53PqVxzWPkzwhSVBZpAD-oAooXsAp3YA3j-ef3atwvLpV4m_pUCd92cCfRfbP8ordevWoXoVU4_fZZOG_9qNW9DHZ_2rxK_OS1K0WDE8j3pYmyIWBMg0YtKPnYflQjp1Vqw5lPTAVrpS08NfP6kEnrqoeCw2=w640-h482" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Constante Puyo, <i>Chant Sacré</i>, 1900</span></td></tr></tbody></table><p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><span style="line-height: 195%;">Na penumbra, o silêncio abre-se para que as vozes se elevem e o cântico se erga para além das nuvens, fundindo-se na música etérea das esferas celestes. Então, é o universo que tece um rosário de louvores ou esculpe, no mármore dos sons, os hinos que, fendendo a hierarquia dos anjos, pairam diante do rosto divino. As mulheres que cantam recolhem-se no som que sai das suas gargantas e todo o seu corpo repousa transparente para que a beatitude que as habita se torne visível aos olhos do mundo.</span></span></div><p></p>Jorge Carreira Maiahttp://www.blogger.com/profile/09954567003274461455noreply@blogger.com0