Outro encontro inesperado foi dos jovens rapazes com a sua
masculinidade. Encontraram-na na cabine de voto. É de homem, pensaram ao pôr a
cruz. O mundo tornou-se um lugar difícil para muitos jovens do sexo masculino.
A escola é uma coisa boa para encontrar amigos, mas estudar é uma chatice.
Coisa de meninas. E as meninas assim o fazem. Ocupam o topo dos resultados e
entram nas faculdades que pretendem, para cursos que dão rendimentos
interessantes, e em que cada vez menos rapazes entram. Uma masculinidade ferida
pelas exigências escolares encontra a sua redenção na cruz do voto. O salvador
irá pôr as mulheres no sítio, abolir a necessidade do esforço escolar e dar aos
homens aquilo a que têm direito.
Outro encontro feliz foi o do eleitor atormentado com a
presença de imigrantes. Foi à cabine de voto para se desencontrar com eles e
encontrar-se consigo. Pouco lhe interessa que sejam o trabalho e as
contribuições desses imigrantes que lhe permitirão ter uma reforma, quando
chegar o dia. Imigrantes, coisa horrível, tornam feia a paisagem humana da
pátria, uma poluição visual. Mais vale morrer de fome aos 70 anos, do que
suportar estas pessoas a fazerem aquilo que os portugueses não querem fazer,
contribuir para que a economia não se afunde e a Segurança Social não colapse.
De súbito, o eleitor atormentado descobriu a sua vocação: mártir em nome da
pureza da raça.
Todo o resto, nas eleições de 18 de Maio, foram
desencontros. Os partidos de esquerda desencontram-se com o seu eleitorado,
quem sabe se num divórcio irremediável. A Iniciativa Liberal e o Livre subiram,
mas desencontraram-se com os seus objectivos: a potência foi menor que o
desejo. Até a AD de Luís Montenegro, apesar da vitória e do crescimento, se
desencontrou com uma maioria que lhe permitisse fazer o que lhe vai na alma. Os
portugueses – parte substancial, não se generalize – parecem muito animados e desejosos
de ver o país mergulhado na confusão. E como se sabe, não há melhor lugar para
encontros do que a confusão.
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