O caso é interessante não tanto pela descoberta de que a
relação entre moral e negócios é ténue, mas porque coloca em jogo o problema da
relação entre capitalismo e democracia liberal. Pretendeu-se que havia um laço
forte entre desenvolvimento do capitalismo e democracias liberais. Ora, existem
demasiadas provas empíricas que contrariam essa crença. O Chile de Pinochet é
um desses exemplos. Outro é a China comunista pós-Mao Tsé-Tung. Podia
multiplicar os exemplos. O que é importante, porém, é perceber que não existe
qualquer relação necessária entre desenvolvimento capitalista e democracia
liberal. Apenas duas liberdades parecem necessárias para a economia
capitalista: a da propriedade privada e a de concorrência, embora esta possa
ser dispensada.
A relação entre capitalismo e democracia parece ser apenas
conjuntural: o resultado, em primeiro lugar, da luta da burguesia contra a
aristocracia e o privilégio político desta; em segundo, da luta contra a ameaça
do comunismo, enquanto inimigo da propriedade privada. Derrotados aristocratas
e comunistas, o capitalismo, para o seu desenvolvimento, pode dispensar regimes
democráticos, o que está a fazer diante dos nossos olhos. A América de Donald
Trump é um caso exemplar, onde a corrosão das instituições democráticas e
liberais está a ser fomentada e financiada por grandes interesses capitalistas.
Contudo, há um outro fenómeno inquietante que ainda não é visível, mas que se
está a desenhar: a destruição, para além das democracias, da liberdade da
concorrência. Grandes interesses económicos gravitam o Estado em busca de
protecção e de destruição dos concorrentes. Talvez a destruição em curso não
seja apenas a das instituições democráticas, mas também da própria economia de
mercado.
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