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Georgia O'keeffe, Black and Purple Petunias, 1925 |
Kyrie Eleison
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Simulacros e simulações (74)
terça-feira, 24 de junho de 2025
A persistência da memória (31)
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Theodor and Oskar Hofmeister, Apfelernte, 1898 |
segunda-feira, 23 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (16)
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Ana Marchand, sem título, 2000 (Gulbenkian) |
Morre pássaro insolente,
ave esquiva de asas tecidas
pela mão que escreve.
Morre, morre, aí mesmo
onde a noiva perdida
abriu o segredo sobre o altar.
Morre em teu voo nupcial,
ao som das folhas do plátano,
perdido no ouro do Outono.
[1993]
sábado, 21 de junho de 2025
Ensaio sobre a luz (129)
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Fernando Lemos, Jardim, 1949 (Gulbenkian) |
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Avatares, Influencers e Seguidores
O avatar é usado para manter o anonimato e esconder o rosto
da pessoas por uma imagem simbólica. O rosto, segundo o ensinamento do filósofo
Emmanuel Lévinas, não é apenas um conjunto de traços físicos, a composição de
uma figura determinada pela lotaria genética e a interacção com o meio. O rosto
do outro é manifestação de uma diferença
absoluta em relação a mim. É uma presença que me interpela e questiona. Mas
também é a revelação de uma vulnerabilidade. Contudo, é essa vulnerabilidade
que traz com ela um apelo dramático: não matarás! Quando se esconde o rosto
através de um avatar, esconde-se a vulnerabilidade, mas também a injunção: não
matarás! A qual está nos alicerces da nossa sociabilidade.
Se o Iluminismo nos trouxe alguma coisa de fundamental, foi
não apenas o reconhecimento de que somos seres racionais, mas que isso tem
consequências no campo moral e político. Seres racionais pensam por si próprios
– mesmo quando se colocam no lugar do outro. Esse pensar por si é a marca da
autonomia e da dignidade humana. O par influencers – seguidores é a
subversão da ideia iluminista da autonomia da pessoa. O seguidor submete a sua
opinião à opinião do influencer, aliena a sua autonomia de pensamento e
com ela a dignidade que deve ser a essência de um ser dotado de razão.
Nada disto é inócuo. Nem a praga dos avatares, nem
epidemia de influencers com os seus rebanhos de seguidores.
Exploram a fragilidade humana, desarticulam o respeito pelas instituições da
vida comum, abrem brechas na sociabilidade que permite vivermos uns com os
outros. Os regimes democrático-liberais fundam-se no respeito que o rosto do
outro me exige e na concepção de que temos uma dignidade porque somos seres que
conseguem pensar por si mesmos. São estes pilares que estão a ser,
visivelmente, corroídos. Uma situação para a qual, as democracias parecem não saber
como lidar com ela.
terça-feira, 17 de junho de 2025
Alma Pátria 72: José Afonso, Balada de Outono
domingo, 15 de junho de 2025
Prosa dos dias (33) Ridículo
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Ilse Bing, Cancan Dancers, Moulin Rouge, 1931 |
sexta-feira, 13 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (15)
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Máximas (25)
segunda-feira, 9 de junho de 2025
Uma grave cegueira
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Diego Rivera, Las Ilusiones, 1944 |
sábado, 7 de junho de 2025
Encontros
Outro encontro inesperado foi dos jovens rapazes com a sua
masculinidade. Encontraram-na na cabine de voto. É de homem, pensaram ao pôr a
cruz. O mundo tornou-se um lugar difícil para muitos jovens do sexo masculino.
A escola é uma coisa boa para encontrar amigos, mas estudar é uma chatice.
Coisa de meninas. E as meninas assim o fazem. Ocupam o topo dos resultados e
entram nas faculdades que pretendem, para cursos que dão rendimentos
interessantes, e em que cada vez menos rapazes entram. Uma masculinidade ferida
pelas exigências escolares encontra a sua redenção na cruz do voto. O salvador
irá pôr as mulheres no sítio, abolir a necessidade do esforço escolar e dar aos
homens aquilo a que têm direito.
Outro encontro feliz foi o do eleitor atormentado com a
presença de imigrantes. Foi à cabine de voto para se desencontrar com eles e
encontrar-se consigo. Pouco lhe interessa que sejam o trabalho e as
contribuições desses imigrantes que lhe permitirão ter uma reforma, quando
chegar o dia. Imigrantes, coisa horrível, tornam feia a paisagem humana da
pátria, uma poluição visual. Mais vale morrer de fome aos 70 anos, do que
suportar estas pessoas a fazerem aquilo que os portugueses não querem fazer,
contribuir para que a economia não se afunde e a Segurança Social não colapse.
De súbito, o eleitor atormentado descobriu a sua vocação: mártir em nome da
pureza da raça.
Todo o resto, nas eleições de 18 de Maio, foram
desencontros. Os partidos de esquerda desencontram-se com o seu eleitorado,
quem sabe se num divórcio irremediável. A Iniciativa Liberal e o Livre subiram,
mas desencontraram-se com os seus objectivos: a potência foi menor que o
desejo. Até a AD de Luís Montenegro, apesar da vitória e do crescimento, se
desencontrou com uma maioria que lhe permitisse fazer o que lhe vai na alma. Os
portugueses – parte substancial, não se generalize – parecem muito animados e desejosos
de ver o país mergulhado na confusão. E como se sabe, não há melhor lugar para
encontros do que a confusão.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Comentários (29)
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Pablo Picasso, The Bottle of Wine, 1925-1926 |
terça-feira, 3 de junho de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (14)
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Teresa Magalhães, sem título, 1981 (Gulbenkian) |
Se o dia cai
em teus olhos,
um augúrio
de água
ergue-se
na voz
lêveda do mar.
[1993]
domingo, 1 de junho de 2025
Por detrás dos resultados eleitorais
sexta-feira, 30 de maio de 2025
Nocturnos 129
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Partido Socialista - uma pulsão de morte
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Jean-Michel Basquiat, Riding with Dead, 1988 |
segunda-feira, 26 de maio de 2025
Simulacros e simulações (73)
sábado, 24 de maio de 2025
O Silêncio da Terra Sombria (13)
quinta-feira, 22 de maio de 2025
Beatitudes (80) Poente
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William Gordon Shields, Sunset on New York Bay, 1915-20 |
terça-feira, 20 de maio de 2025
Abandonados pelo voto popular
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Camille Pissarro, Fiesta en la ermita, 1878 |
Um dos dados mais importantes das eleições de domingo foi o
abandono da esquerda pelo voto popular. Os resultados são aterradores para os
partidos tradicionais de esquerda. Não apenas porque, no conjunto, estão
reduzidos no número de deputados – 68 em 230, mas porque o eleitorado que os
abandonou muito dificilmente retornará. Parte substancial do eleitorado do
Chega (isto já tinha acontecido nas eleições do ano passado) vem da esquerda.
São pessoas que estão revoltadas com a sua situação social e cansaram-se tanto
do reformismo socialista como da retórica revolucionária do Partido Comunista e
do Bloco de Esquerda.
Não querem saber de transformações colectivas, nem da luta
dos trabalhadores ou das minorias. O centro do seu interesse político é a sua
vida. Votaram no partido que imaginam dar corpo à sua revolta. É uma esperança
do desespero. Imaginaram, durante muito tempo, que seria a política de esquerda
que levaria o Estado a resolver os seus problemas. Como o Estado é impotente
para o fazer, pois cada um depende de si mesmo, mudaram não o modo de pensar,
mas o sentido de voto. Tornam a imaginar que um partido ou o seu líder lhes resolverá
o problema. É uma ilusão que levará tempo a ser desfeita.