sábado, 21 de maio de 2022

A submissão


Um dos temas recorrentes do Partido Comunista Português é o da submissão de Portugal e da Europa aos EUA. Com a invasão russa da Ucrânia e a solidariedade generalizada – generalizada não quer dizer total – dos portugueses com o destino dos ucranianos e da União Europeia com a Ucrânia, a retórica em torno dessa putativa submissão ao imperialismo americano aumentou de intensidade. Resiste esta acusação aos factos? São os Estados Unidos, em relação à Europa e a Portugal, em particular, uma potência de ocupação ou são Portugal e a União Europeia protectorados americanos? Só há uma resposta: não. Pelo contrário, os exércitos americanos vieram duas vezes, no século XX, à Europa para ajudar libertá-la dos sarilhos em que se metera e não para a submeter. Não há qualquer sinal de submissão dos países da União Europeia a um diktat americano. O que há é um desejo de estreitar mais as relações, como se vê agora no caso da Suécia e da Finlândia.

Se os europeus estão alinhados com os americanos, isso deve-se, em primeiro lugar, ao facto de terem interesses comuns. Os governos europeus, eleitos democraticamente, têm manifestado consecutivamente o seu interesse na cooperação com os EUA, não por submissão, mas porque acham que é benéfico para os respectivos povos. Aliás, a presidência de Donald Trump e a ameaça do fim da NATO e de ruptura com a Europa deixaram em pânico não poucas capitais europeias. Além dos interesses económicos e militares há outro motivo. Entre europeus e americanos há um fundo comum, uma cultura e um modo de vida partilhados. Esse modo de vida assenta na liberdade, na possibilidade de cada um dirigir a sua vida do modo como entende. Por muito realista que se seja na análise das relações internacionais, não é possível pôr de lado, na relação entre EUA e UE, esse factor.

Imagine-se, agora, que os países da União Europeia rompiam a colaboração com os EUA. Que se extinguia a NATO e se fechavam as portas aos interesses americanos. Não é preciso muita imaginação para perceber como os povos europeus ficariam à mercê dos inimigos visíveis e dos invisíveis. A Europa tornar-se-ia, de imediato, um rebanho de cordeiros na mira de matilhas de lobos de diversas proveniências. E por muito que os europeus cressem na paz e se mostrassem pacíficos, isso não alteraria o desejo de domínio de terceiros. Pelo contrário. No lugar de submissão aos EUA, Portugal e os países da União têm na aliança com os americanos um escudo que protege um modo de vida que não sendo o do paraíso, ainda assim é o melhor que se encontra por esse mundo fora. 

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