Andre de Dienes, Fireworks over Notre-Dame, Paris, 1936 |
quinta-feira, 29 de abril de 2021
Nocturnos 59
terça-feira, 27 de abril de 2021
Simulacros e simulações (21)
Robert Doisneau, Les Hélicoptères, 1972 |
domingo, 25 de abril de 2021
Sempre
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
sábado, 24 de abril de 2021
A Superliga de futebol
Parece ter caído o Carmo e a Trindade com o anúncio da
eventual criação de uma Superliga Europeia de Futebol, iniciativa dos clubes
mais poderosos de Espanha, Itália e Inglaterra. Há muito que os clubes deixaram
de ser aquilo que foram quando nasceram, organizações populares para as pessoas
praticarem desporto e conferir-lhes identidades mais ou menos paroquiais. Os
clubes eram representantes de um certo espírito local que se sublimava dentro
de campo. Forneciam identidades num tempo em que o capitalismo as erodia.
A transformação desses clubes em sociedades desportivas veio pôr um fim irremediável à relação romântica que esteve na origem da difusão do futebol como desporto popular. Esse fim, todavia, começou lá muito atrás, quando os jogadores se profissionalizaram. Essa lógica culmina agora com a Superliga. Os clubes não são agremiações desportivas, mas empresas privadas que procuram o lucro e se batem por mercados. A Superliga não é outra coisa.
Por outro lado, sem que os próprios adeptos se apercebessem, transformaram-se em clientes. Contam apenas como consumidores de representações tribais altamente profissionalizadas e de emoções, pelas quais estão dispostos a pagar, seja indo ao estádio, seja consumindo o merchandising da empresa/clube, seja pagando os canais televisivos ligados à indústria futebolística. Por que razão os clientes dos clubes que propõem a Superliga não a hão-de querer? Promete-lhes um produto melhor, mais emoções e a pertença à elite fechada das tribos do futebol europeu. Como consumidores têm esse direito.
Quando se diz que as nossas sociedades passaram de economias de mercado para sociedades de mercado é disto que estamos a falar. O mercado absorve todas as actividades humanas, retirando-lhes a aura da iniciativa das comunidades para transformar tudo em mercadoria que se compra e vende. A Superliga, caso venha a existir, resultará da livre iniciativa de um conjunto de empresas que se associaram para uma actividade económica, que dependerá da adesão dos consumidores.
Essa eventual Superliga nem é uma afronta à livre concorrência, como alguns afirmam, pois a sua existência não impede que outras ligas existam e concorram com ela. Aquilo que parece afrontar muita gente é que os grandes clubes europeus querem libertar-se da tutela política das federações e não se dispõem à solidariedade com os mais pequenos e com menos mercado, mas isso está na lógica da sociedade que foi construída, quando tudo se transformou em mercadoria e a sociedade se tornou apenas num mercado, no qual cada um persegue o interesse próprio. Não se pode querer, ao mesmo tempo, sol na eira e chuva no nabal.
quinta-feira, 22 de abril de 2021
A Garrafa Vazia 57
terça-feira, 20 de abril de 2021
O xadrez do combate à corrupção
Vieira da Silva, La Partie d'échecs, 1943 |
domingo, 18 de abril de 2021
Simulacros e simulações (20)
Tibor Honty, Fiction Game, Prague, 1952 |
sexta-feira, 16 de abril de 2021
Ensaio sobre a luz (90)
quinta-feira, 15 de abril de 2021
Beatitudes (45) A libertação da realidade
Paris anno 1960. Watch how modern the Citroen DS was at that time. Photographer unknown |
terça-feira, 13 de abril de 2021
A Garrafa Vazia 56
domingo, 11 de abril de 2021
Na era do ad hominem
Quando a internet surgiu e, posteriormente, com a emergência
dos blogues e redes sociais pensou-se que a esfera pública tinha encontrado uma
fonte de renovação. Mais pessoas poderiam trocar opiniões sobre os problemas
que afectam a vida comum, sem estarem controladas pelos diversos poderes,
contribuindo para uma crescente participação, racionalmente educada, nos
assuntos públicos. Olhando para o que se passa – seja nas redes sociais ou nas
caixas de comentários dos órgãos de comunicação online – a sensação é
devastadora.
Existe, na verdade, um aumento da interacção social, mas esse contribui, ao contrário do que se esperava, para degradação da esfera pública. A situação é tanto mais preocupante quanto têm crescido os níveis de escolarização das pessoas, e a esfera pública era vista como um lugar de participação através da razão argumentativa, o que supõe uma população escolarizada. As participações valeriam apenas pela racionalidade dos argumentos e não por quaisquer outras características pessoais.
A generalidade dos participantes nesta nova esfera pública não possui, todavia, qualquer capacidade para argumentar razoavelmente sobre os assuntos públicos. A larga maioria das intervenções não passa da expressão de sentimentos e emoções, do débito de adesões cegas ou de ódios acesos. Quando são apresentados esboços de argumentos, estes ou radicam na incompreensão do que está em causa ou não passam de falácias que visam confirmar aquilo que o emissor sente, uma tentativa de esmagar as opiniões de que discorda.
Uma falácia persistente tornou-se o centro da vida da esfera pública nos tempos da internet. Trata-se do velho argumentum ad hominem (argumento contra o homem). Se alguém propõe alguma coisa, aquilo que vai ser contestado, de modo directo ou indirecto, é a pessoa e não o que ela propõe ou defende. Esta falácia é importante não apenas do ponto de vista da coerência lógica da argumentação, mas porque é o sinal de uma atitude social que se tem expandido com força inusitada nos últimos tempos.
No argumentum ad hominem manifesta-se uma intolerância não apenas com a opinião do outro, mas com a pessoa do outro. Não são razões que são apresentadas, mas um ódio contumaz, destilado de forma mais ou menos agressiva. Aquilo que pareceu ser uma democratização de práticas racionais de argumentação pública com vista ao consenso, não passa, hoje em dia, de um vazadouro do pior lixo que há em nós. Tornou-se numa ameaça persistente às regras democráticas e de convivência social promotoras da amizade cívica entre quem pensa de forma diferente.
sexta-feira, 9 de abril de 2021
Nocturnos 58
Harold Roth, Luna Park, 1940 |
quarta-feira, 7 de abril de 2021
Escolas e corrupção
As escolas tornaram-se o lugar onde todas as preocupações
sociais são despejadas. A última notícia veio pela boca da ministra da Justiça.
A estratégia anticorrupção passará também pelas escolas. Violência doméstica? Assunto
para a escolas. Preocupações ambientais? Assunto para as escolas. Violência no
namoro? Assunto para as escolas. Falta de espírito empreendedor? Assunto para
as escolas. Incapacidade de gerir dinheiro e de gerar poupanças? Assunto para
as escolas. Problemas de obesidade e má alimentação no país? Assunto para as
escolas. Racismo? Assunto para as escolas. Gravidezes indesejadas, práticas
sexuais arriscadas, desconhecimento da sexualidade? Assunto para as escolas.
Agora, chegou a vez da corrupção.
Algumas destas coisas a escola, no âmbito curricular, poderá tratar. O resto é impossível. E daquilo que a escola pode tratar não será de esperar efeito significativo sobre as crenças dos indivíduos. Pensar que a escola consegue alterar o conjunto de representações mentais e de hábitos que os alunos trazem de casa e dos grupos de pares é pura estultícia. Haverá alunos que poderão ser tocados. Serão poucos e, muitas vezes, esses poucos já trazem de casa a inclinação para serem sensíveis a certas atitudes vistas como socialmente adequadas. Este recurso sistemático às escolas, para resolverem assuntos para os quais não têm poder, é uma manobra política desagradável. Os governantes despejam em cima delas aquilo que deveria ser da responsabilidade das famílias, das instituições sociais e dos próprios actores políticos.
Trazer o problema da corrupção para dentro das escolas é carregá-las com mais um encargo para o qual não têm nem poder nem vocação. É uma forma, também, de fugir ao problema fingindo enfrentá-lo. No entanto, haveria coisas que poderiam ser feitas. Peguemos em três pequenos problemas. Qual é a reacção social ao facto de os alunos copiarem nas provas de avaliação? Qual é a reacção social perante a prática de plágio dos trabalhos de investigação ou do recurso aos pais e explicadores para os fazerem? Qual é a reacção social perante o facto de numa fila para o bar ou cantina haver alunos que dão o ‘golpe’, colocando-se à frente dos outros que lá estavam? Se uma escola pública decidisse ter um código duro para com esses comportamentos, qual seria a atitude dos pais? E do Ministério da Educação? Essas coisas não têm a ver com a corrupção? Tem a certeza? Seria mais interessante que o governo se preocupasse com elas em vez de atafulhar as escolas com ideias sem nexo.
domingo, 4 de abril de 2021
A floresta e o destino da humanidade
Arnold Böcklin, Floresta Sagrada, 1882 |
Há na espécie humana uma inclinação para desencadear processos que depois não consegue controlar. As questões climáticas e o desaparecimento da floresta parecem já fazer parte desses casos onde o feitiço parece voltar-se inelutavelmente contra os feiticeiros. Faz parte dessa inclinação aquilo que se pode chamar a indústria da dúvida. O primeiro caso bem conhecido foi a estratégia usada pela indústria tabaqueira para lançar dúvidas sobre a relação entre o consumo de tabaco e o cancro de pulmões, depois o da indústria petrolífera acerca do aquecimento global. O mesmo se passa no caso das florestas. Aparecerá sempre alguém a lançar um conjunto de dúvidas sobre as evidências científicas. A partir daí, haverá legiões de militantes fanáticos a desvalorizar os perigos reais, mitigando-os ou mesmo tentando fazer crer que são falsos. Certamente que os rapanuios tiveram a percepção de que algo estaria mal na ilha, mas foram impotentes para travar o mal. A espécie humana no seu todo arrisca-se a ter o mesmo destino que os primeiros colonizadores da Ilha da Páscoa.
sábado, 3 de abril de 2021
A Garrafa Vazia 55
sexta-feira, 2 de abril de 2021
Sonhos numa noite de Verão 30
Margaret Bourke-White, Scottish highlanders and Indian troops march past the Great Pyramid, 1940 |
quinta-feira, 1 de abril de 2021
Perfis 16. O compositor
Yousuf Karsh, Igor Stravinsky, 1952 |