quarta-feira, 7 de abril de 2021

Escolas e corrupção

As escolas tornaram-se o lugar onde todas as preocupações sociais são despejadas. A última notícia veio pela boca da ministra da Justiça. A estratégia anticorrupção passará também pelas escolas. Violência doméstica? Assunto para a escolas. Preocupações ambientais? Assunto para as escolas. Violência no namoro? Assunto para as escolas. Falta de espírito empreendedor? Assunto para as escolas. Incapacidade de gerir dinheiro e de gerar poupanças? Assunto para as escolas. Problemas de obesidade e má alimentação no país? Assunto para as escolas. Racismo? Assunto para as escolas. Gravidezes indesejadas, práticas sexuais arriscadas, desconhecimento da sexualidade? Assunto para as escolas. Agora, chegou a vez da corrupção.

Algumas destas coisas a escola, no âmbito curricular, poderá tratar. O resto é impossível. E daquilo que a escola pode tratar não será de esperar efeito significativo sobre as crenças dos indivíduos. Pensar que a escola consegue alterar o conjunto de representações mentais e de hábitos que os alunos trazem de casa e dos grupos de pares é pura estultícia. Haverá alunos que poderão ser tocados. Serão poucos e, muitas vezes, esses poucos já trazem de casa a inclinação para serem sensíveis a certas atitudes vistas como socialmente adequadas. Este recurso sistemático às escolas, para resolverem assuntos para os quais não têm poder, é uma manobra política desagradável. Os governantes despejam em cima delas aquilo que deveria ser da responsabilidade das famílias, das instituições sociais e dos próprios actores políticos.

Trazer o problema da corrupção para dentro das escolas é carregá-las com mais um encargo para o qual não têm nem poder nem vocação. É uma forma, também, de fugir ao problema fingindo enfrentá-lo. No entanto, haveria coisas que poderiam ser feitas. Peguemos em três pequenos problemas. Qual é a reacção social ao facto de os alunos copiarem nas provas de avaliação? Qual é a reacção social perante a prática de plágio dos trabalhos de investigação ou do recurso aos pais e explicadores para os fazerem? Qual é a reacção social perante o facto de numa fila para o bar ou cantina haver alunos que dão o ‘golpe’, colocando-se à frente dos outros que lá estavam? Se uma escola pública decidisse ter um código duro para com esses comportamentos, qual seria a atitude dos pais? E do Ministério da Educação? Essas coisas não têm a ver com a corrupção? Tem a certeza? Seria mais interessante que o governo se preocupasse com elas em vez de atafulhar as escolas com ideias sem nexo.

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