sábado, 11 de agosto de 2012

A luz e o pessimismo

Kazimir Malevich - Quadrado Negro (1923-1929)

Não são as épocas de trevas as mais propícias ao pessimismo. É nas épocas iluminadas que se encontra o terreno fértil para tal ponto de vista. Mas não são essas épocas tempos de progresso? Não deverá o progresso fazer-nos crer que o bem triunfará? As épocas em que a luz do conhecimento incide sobre a vida permitem, é um facto, o progresso material da humanidade. Ao mesmo tempo, porém, permitem-nos perceber melhor como o mal se afirma, ganha terreno, se constitui em poder e domina. Nunca uma época foi tão iluminada pela luz natural da razão como a actual. Alguém, porém, se atreverá a dizer que no mundo de hoje o bem prevalece sobre o mal, a justiça sobre a injustiça? O pessimismo é o fruto amargo da lucidez trazida pela razão.

8 comentários:

  1. O pessimismo conduz à abulia.

    Mas há certamente um momento em que a abulia se esgota e nasce a revolta e, com a revolta, a esperança e, com a esperança, de novo o optimismo.

    Em que momento acontece isto? Quando a sobrevivência está em causa?

    Ou pode não acontecer?

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    1. Não é obrigatório que o pessimismo conduza à abulia. Pode conduzir à celebração da vida tal e qual é, com o bem e com o mal. Por outro lado, duvido que o optimismo seja um bom remédio para quando a sobrevivência está em causa. O pessimismo, porém, não é o antónimo do optimismo. Ele resulta da luz, por isso permite ver aquilo que o optimismo não gosta de ver.

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    2. O pessimismo não é o reverso do optimismo? Resulta da luz? Mas como? Tudo o que se vê é assustador, péssimo, carregado de maus augúrios?

      Não posso concordar.

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    3. A luz permite ver, e aquilo que se vê, no âmbito dos negócios humanos, é que, geralmente, o mal prevalece sobre o bem. Isto não significa que tudo o que se vê é mau, apenas que o mal prevalece nas coisas do mundo. Por exemplo, será o cristianismo optimista ou pessimista? Relativamente ao mundo e aos seus negócios é pessimista. O optimismo cristão reside apenas na esperança da salvação, mas esta só é assegurada pelo concurso da graça e dá-se no outro mundo. Outro caso: Kant. À primeira vista parece um optimista, pois defende a existência de um progresso moral da humanidade. Mas não só esse progresso moral é infinito como o próprio Kant duvida que até hoje tenha existido uma acção humana com valor moral.

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  2. De Malevich prefiro o "Quadrado Vermelho".
    Uma cor primária, o vermelho, pode sempre representar a vitória do bem sobre o mal da ausência de cor, o negro.

    Votos de bom Domingo

    Abraço.

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    1. Na alquimia, a obra progride do negro (a obra ao negro) até ao branco, passando pelo vermelho. Seja como for o negro é a ausência de luz e o vermelho ainda não a luz pura.

      Abraço e bom domingo.

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  3. Correndo o risco de ser mal interpretada, invoco Cassandra, seja ela um mito, uma metáfora ou um complexo.
    Na fotografia, por exemplo, o excesso de luz pode comprometer a nitidez. ( digo eu, que nada vejo ou compreendo)

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    1. Também os nossos olhos não suportam o excesso de luz. Mas, julgo, que os problemas postos pelas sociedade derivadas do iluminismo não estão no excesso de luz, mas naquilo que ela permite ver. Embora essa luz da razão também mereça ser questionada e pensada.

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