A morte de Neil Armstrong, o primeiro ser humano a pisar a lua, veio relembrar o acontecimento essencial do século XX. De tudo o que o homem fez, desde as coisas mais terríveis até às mais benfazejas (e o século XX está repletas de ambas), o acontecimento decisivo para a história da humanidade está simbolizado nos primeiros passos dado por este homem na lua. Com esses passos, a humanidade, como disse Hannah Arendt, começou a emancipar-se da sua condição terrestre.
Esse acontecimento pouco tem a ver com a exploração técnico-científica do espaço (tem-no, mas de forma secundária), nem com a corrida entre americanos e soviéticos, nem com a velha curiosidade que o homem sente pelo que está distante. Esse acontecimento está ligado à constituição do homem como ser extra-terrestre. Com o passeio de Armstrong na lua, houve uma mutação radical na condição da espécie humana. A Terra deixou de ser o único lar possível para a nossa espécie e foi aberta uma clareira na imensidão do universo, prestes a tornar-se um lugar de múltiplas pátrias.
Um homem notável e um acontecimento transcendente, é certo.
ResponderEliminarMas não podemos deixar cair a importância, também ela decisiva, de Yuri Gagarine, o pioneiro do espaço.
Seria como exaltar Vasco da Gama, ignorando o papel determinante que Gil Eanes desempenhou na posterior caminhada daquele para a Indía.
Abraço
De acordo. Mais, a aventura espacial não se resume aos astronautas, mas a todos aqueles que trabalharam para que isso se tornasse possível e, mesmo, aos que tomaram as decisões políticas que conduziram ao resultado final. Mas assim como Vasco da Gama é um símbolo (um símbolo da globalização), também Armstrong e o seu passeio na Lua simbolizam a extra-territorialização do homem. De certa forma, e apesar do gigantesco passo dado, Gagarine ainda estava "preso" à Terra, Armstromg já não, ou pelo menos da mesma forma.
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