terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Beatitudes (65) Canto sagrado

Constante Puyo, Chant Sacré, 1900

Na penumbra, o silêncio abre-se para que as vozes se elevem e o cântico se erga para além das nuvens, fundindo-se na música etérea das esferas celestes. Então, é o universo que tece um rosário de louvores ou esculpe, no mármore dos sons, os hinos que, fendendo a hierarquia dos anjos, pairam diante do rosto divino. As mulheres que cantam recolhem-se no som que sai das suas gargantas e todo o seu corpo repousa transparente para que a beatitude que as habita se torne visível aos olhos do mundo.

domingo, 28 de janeiro de 2024

A persistência da memória (28)

Alfred Stieglitz, A wet day on the boulevard - Paris, 1897

O passado por vezes visita-nos em modo de assombração, como se um mal ocorrido há muito ainda não tivesse sido expiado. Outras, porém, chega até nós com um sorriso tingido de uma leve melancolia e uma perfeição que nos faz querer viajar no tempo e visitar esses dias que foram relegados para um desvão no grande edifício da memória colectiva. Passear, mesmo em dia de chuva, num grande boulevard parisiense, nesses anos finais do século XIX, nos quais o engenho do homem e o poder da indústria não tinham enchido a terra de automóveis, seria um acto de suprema civilização. Ali a vida fervilhava cheia de promessas, uma vida tão perfeita na imaginação que agora a recorda, que o coração a contempla rasgado pela saudade daquilo que nunca viveu.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Simulacros e simulações (59)

Júlio Resende, sem título, 1948 (Gulbenkian)

As aldeias nascem de uma simulação do universo. Um pequeno casal, comprimido pelo silêncio e submetido ao império da necessidade, é erguido no meio do nada. O tempo cai sobre ele e uma estranha energia condensa-se até que explode. Em volta, nascem outros casais, seguidos de pequenas casas, alguns casebres, talvez uma grande moradia. Então, alguém se lembra de um nome e a aldeia prepara-se para ser inscrita no mapa das coisas que existem.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

VI Automne à Varsovie

Fernando Azevedo, Ocultação, 1950 (Gulbenkian)

árvores de outono tão escuras

se férvidas abrem-se nas manhãs

se frias jazem negras e impuras

amarelas da negra morte irmãs

 

pássaros em voo raso

            cantam sombrios no ocaso 

[Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007]

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Nocturnos 113

Ernst Ludwig Kirchner, Night Moon; Accordion Player by Moonlight, 1924

Os pássaros do paraíso são mulheres a vibrar sobre a terra. Escutam na noite a luz da lua. É uma luz feita de notas e corre como uma ave musical desprendida do céu. Então, a noite abandona o peso e ergue-se em levitação. Dança transfigurada, enquanto a lua se derrama no voo vibrante das mulheres perdidas no paraíso.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Os novos revolucionários

 

O desfile de personalidades de diversas proveniências convertidas ao Chega tem sido um espectáculo admirável. Trata-se da radicalização de parte da direita portuguesa. Vale a pena estabelecer uma comparação com o Bloco de Esquerda. Quando nos finais dos anos noventa do século passado, o BE foi fundado, assistiu-se também a uma conversão. Contudo, essa conversão teve um sentido bem diferente. Duas das três organizações que deram origem ao BE vinham da extrema-esquerda, a UDP e o PSR. O novo partido representou um corte com um passado radical e permitiu a entrada no sistema da democracia liberal de muitos militantes que tinham estado, de certo modo, na sua margem. Quando há uns tempos Catarina Martins disse que o BE era uma organização social-democrata, apenas sublinhou uma evidência.

Muitas pessoas que estavam em partidos moderados da direita portuguesa decidiram sair do armário e entrar numa via de radicalização. Esta radicalização não está apenas na linguagem contra os ciganos e os imigrantes, não se fica pela coreografia desrespeitosa das actuais instituições portuguesas. Encontra-se no objectivo político central que é perseguido. A destruição das actuais instituições e a fundação daquilo a que Ventura chamou a IV República, embora isso tenha sido apagado do discurso público. A ideia que actualmente se pretende passar, de que o Chega é um partido conservador, só pode enganar quem não tenha a mínima noção do que é o conservadorismo. O que está em jogo é destruir o legado do 25 de Abril de 1974.  Portanto, uma espécie de revolução, ou, melhor, de uma contra-revolução.

Com honrosas, mas raras, excepções, as direitas portuguesas mantiveram-se fiéis à ditadura de Salazar e de Caetano. O PSD e o CDS fizeram um trabalho notável de integração dessas direitas no regime democrático. Com o tempo, foi-se consolidando uma direita democrática, respeitadora das regras da democracia liberal e de orientação europeísta. Contudo, a direita antidemocrática nunca deixou de existir. É ela que, ao perceber que Ventura tem capacidade de penetrar no eleitorado, corre afogueada para os seus braços. É uma direita que nunca estimou o jogo democrático, nem as liberdades fundamentais consagradas na Constituição. Talvez, em muitos dos aderentes mais sofisticadas, nem haja grande respeito por Ventura e pela coreografia populista com que se apresenta, mas perceberam que lhes pode ser útil, no seu desejo de radicalizar a vida política e minar os alicerces do regime democrático. É preciso não esquecer que a ideia de revolução não existe apenas à esquerda. Também existe à direita e foi ela que deu origem ao salazarismo.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Julien Gracq, A Costa das Sirtes

 

Publicado em 1951, A Costa das Sirtes (Le Rivages des Syrtes) é o mais conhecido romance do francês Julien Gracq (pseudónimo literário de Louis Poirier). Foi traduzido para português por Pedro Tamen e publicado pela Vega. A primeira edição portuguesa, sem data, está esgotada, mas ainda será possível encontrar a reedição de 1988. O romance valeu ao autor o prémio Goncourt, aliás recusado. O romance escrito numa linguagem que o aproxima da prosa poética é resultado de uma trama onde o destino do indivíduo se entretece com o da comunidade a que pertence. Não estamos perante um herói burguês voltado para a acção triunfal, mas de um aristocrata que encarna o espírito de uma comunidade, cujo desejo inquietante se manifesta no coração de Aldo, o herói e narrador. Num mundo imaginário, dois países – Orsenna, a cidade-estado aristocrática a que pertence Aldo, e Farghestan, a potência bárbara e desconhecido, separados pelo mar das Sirtes – entretêm uma inimizade ancestral, estando em guerra há séculos, mas desde há trezentos anos que não há uma batalha. A guerra parece sempre o destino que espera Orsenna, mas um destino que não se consuma.

Deste destino que não se consuma nasce uma expectativa na própria comunidade. Há todo um comportamento ritual para evitar a deflagração de um conflito com o inimigo de sempre, com os bárbaros do outro lado do mar. A existência de um estado de guerra adormecido, mas continuamente presente, torna-se uma estranha inquietação. No segredo dos corações, há um desejo de afrontar e tornar presente esse destino sempre anunciado e sempre adiado. É neste ambiente que Aldo, cansado do tédio da sua existência na capital, pede para ser incorporado no serviço militar. É enviado como observador, um cargo de acordo com a sua posição social de aristocrata, para as Sirtes, para o Almirantado, onde estão as tropas de Orsenna que têm por missão vigiar o mar e evitar que alguém ultrapasse a linha imaginária que sustenta a paz reinante. A ultrapassagem dessa linha porá fim ao torpor da história. Tanto o edifício do Almirantado como a região vivem numa grande degradação, como se aquela região nos confins de Orsenna tivesse sido abandonada pelo centro, esquecida pelos poderes públicos. É nesse ambiente de desolação que Aldo sente uma atracção pelos mapas da região, o que inquieta o comando do forte, que vê nesse interesse uma ameaça ao status quo.

O tédio de Aldo condu-lo à necessidade de se aventurar para além da linha imaginária que pode conduzir à guerra. Contudo, não é apenas o seu estado de espírito que o move. O encontro com a jovem princesa Vanessa Aldobrandi, cuja família tem um palácio em Maremma, uma espécie de Veneza das Sirtes, uma Veneza degradada, tem um papel fundamental na conduta de Aldo. Ela é uma Eva que tenta aquele Adão, já de si desejoso de ser tentado. A família de Vanessa é vista como tendo, em tempos, estado conluiada com os inimigos de Orsenna, talvez seduzida pela natureza estranha do inimigo. Vanessa traz no sangue essa propensão para o que será uma traição. Também ela não suporta a expectativa, a paz que nunca é uma verdadeira paz alicerçada numa amizade entre ambos os países, mas uma ausência da guerra, que a qualquer momento poderá eclodir. A sedução de Aldo por Vanessa é um elemento central da narrativa de Gracq, embora não seja claro que sem essa sedução Aldo tivesse evitado a aventura que o lea à transgressão da linha imaginária.

É plausível pensar que aquilo que move os dois jovens é diferente. Vanessa age por fidelidade a uma tradição de traição, de aliança, ainda que meramente subjectiva, com o inimigo. Aldo encontra na aventura que desencadeará a guerra que destruirá Orsenna uma forma de dar sentido à sua existência, de o raptar do tédio de uma vida perdida entre prazeres e sem objectivos que não sejam estar vivo e manter a situação tal como está há séculos. A transgressão é uma forma de combater o tédio e dar um sentido à existência do jovem aristocrata. Contudo, a transgressão de Aldo ultrapassa-o, pois ela responde a um silencioso e inquietante desejo de transgressão dos habitantes de Orsenna. A transgressão resulta da incapacidade de viver continuamente numa tensão entre o que existe e aquilo que ameaça vir a existir, mas que adia constantemente a hora da sua manifestação. Na verdade, não é o tédio de Aldo que arrasta Orsenna para a guerra, mas o desejo secreto de guerra existente no coração de Orsenna que se manifesta no tédio e na transgressão de Aldo. Há um desejo de suicídio colectivo. Já ninguém suporta a expectativa, pois o desejo de enfrentar aquilo que está destinado a acontecer tomou conta dos espíritos. O acontecimento apocalíptico que se deseja secretamente é a outra face da revelação do próprio destino da comunidade e dos indivíduos que a compõem.

Julien Gracq refere que o seu objectivo em A Costa das Sirtes não foi contar uma história intemporal, mas destilar aquilo a que chama o “espírito da história”. A estratégia usada para esse destilar do “espírito da história” vive numa tensão tempo e intemporalidade. A linguagem descritiva da paisagem das Sirtes, acentuadamente poética, dá a ver um mundo marcado pelo tempo, um mundo onde as ruínas parecem omnipresentes, mas fá-lo de uma forma tal que esse mundo parece ter sido elevado à condição da imutabilidade. A imutabilidade, a ausência de mudança, é um sintoma da intemporalidade. É nessa aparente intemporalidade que se manifesta o “espírito da história”. A história, sublinha-o Gracq, possui um feitiço oculto, o qual possui a virtude, isto é, o poder de intoxicar. É esta intoxicação que toca os habitantes de Orsenna e anima Aldo na luta contra o tédio. É ela que precipita o inevitável e põe o motor da história a trabalhar. E sempre que se ouve o motor da história rodopiar há uma consumação do destino. Por norma, essa consumação é um desastre, o desastre que de alguma forma se esperava e, no fundo, se desejava.

O romance, publicado como se referiu em 1951, pode ser uma densa meditação a posteriori sobre o destino de uma Europa marcada por duas grandes guerras, É provável que, na época em que surgiu nas livrarias, assim fosse lido. O mais curioso, todavia, é que a sua leitura nesta hora revela uma outra faceta da obra. O que capta o espírito do leitor não é tanto a meditação sobre o passado da Europa, mas o retrato do tempo presente, como se nós, os europeus, fôssemos os habitantes de Orsenna e perante nós se erguesse a imagem de um destino que se teme e ao mesmo tempo se deseja. Também nós temos o nosso Farghestan, com o qual estamos em guerra, apesar da paz aparente em que vivemos. Esperamos apenas o Aldo que encarne o nosso desejo de destino e precipite aquilo que, no fundo, todos sentem como inevitável. A Costa das Sirtes, apesar de escrita há quase 75 anos, parece-nos dirigida. Resta saber se o romance de Gracq nos é dirigido como um aviso ou como uma profecia.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

O progresso moral da humanidade (15)

Amadeo de Souza-Cardoso, O príncipe e a matilha, 1912 (Gulbenkian)

Ter-se-á pensado, num daqueles momentos em que a benevolência da história permite imaginar as mais tresloucadas fantasias, que os homens, todos eles, teriam nascido para príncipes. Não porque todos tivessem uma inclinação para o governo dos seus iguais, mas porque todos se entregariam ao seu autogoverno, fazendo da liberdade o elemento etéreo onde a vida deveria correr. O tempo, porém, é um temível inimigo de sonhos e ilusões. Como uma espada afiada, logo desfaz as mais suaves fantasias e torna manifesto aquilo que, sob elas, se esconde. No lugar de uma assembleia de príncipes, existem rebanhos amorfos. Se se exige muito deles, logo se tornam matilha pronta para devorar tudo onde o odor da liberdade se faça presente.

domingo, 14 de janeiro de 2024

V Arc-en-ciel

Gerardo Rueda, Pintura blanca II, 1963

em areias de ervas já semeadas

cantas na tarde branca e luminosa

aves descem ao mar se espantadas

presas férteis de mãos sediciosas

 

no céu uma luz impura

traça sóis presos na alvura


[Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007]

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Ensaio sobre a luz (112)

Eugene Louis Boudin, Harbor at Bourdeaux, 1874

A luz sobre os portos ilumina as partidas e as chegadas. O comércio da viagem exige que o ir e o vir sejam raptados ao reino das trevas, ao império da escuridão. Uma luz difusa desce do céu, cai sobre os barcos ancorados e sobre os que se afastam ou se aproximam. Na cintilação da paisagem, no fulgor das águas, toda a navegação se torna um cântico matinal.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Comentários (15)

Júlio Pomar, Cegos de Madrid, 1957 (Gulbenkian)

 Quando uma época cai a prumo,
como o cisma de uma crença anterior
Rui Cóias

Nunca deixamos de pertencer a uma irmandade tomada pela cegueira. Sempre que nos é solicitado que vejamos, a voz da fraternidade fala mais alto e não avistamos o abismo diante dos olhos. Quem vive num tempo de decadência, numa daquelas eras em que um mundo se fecha e um outro se abre, não sabe que essa hora é decisiva e o que ela tem de excepcional não passa, aos olhos daqueles que a vivem, da mais pura trivialidade. O espanto perante tal metamorfose é sempre posterior, um exercício de uma memória que se reconstrói, para abrir um grande cisma entre o olhar de quem viveu no tempo da queda e da metamorfose e o daqueles que a observam com os olhos de um futuro que ainda não existia.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Romper o consenso

Pablo Picasso, Guernica, 1937

Faz agora um ano que no Brasil se deu a sequela do ataque ao Capitólio, nos EUA, com um ataque aos órgãos de soberania brasileiros. Tanto nos EUA como no Brasil, não despareceram as forças que estiveram por detrás dos ataques que visavam a destruição da democracia. Continuam activas e focadas em romper o consenso nacional em torno do regime democrático. A estratégia deste tipo de forças, um pouco por todo o lado, passa por fomentar grandes clivagens políticas, abrir cisões no corpo social e transformar o conflito democrático, com as suas regulações pelo direito, num clima de guerra civil larvar. Antigamente, as forças de extrema-direita agiam em nome da ordem, aproveitando momentos mais conflituais para eliminar a democracia. O que se passa neste momento, porém, é diferente. São essas forças que geram instabilidade e provocam conflitos fora da ordem legal. O objectivo é eliminar os regimes democráticos, o controlo do poder pela lei democrática e instaurar estados autoritários. Contudo, o ponto inicial da estratégia é sempre o mesmo: romper o consenso e transformar adversários políticos em inimigos. Isto não se passa apenas nos EUA e no Brasil. Passa-se na Europa e passa-se em Portugal.

sábado, 6 de janeiro de 2024

Voltar à menoridade

 

Cerca de 50% dos americanos entre os 18 e os 45 anos não acham que a democracia seja a melhor forma de governo. Metade das novas gerações está disponível para viver sob um regime autoritário. Isto nos Estados Unidos, uma das democracias mais antigas e consolidadas do planeta, uma nação intrinsecamente democrática, onde um complexo jogo de checks and balances tem por função limitar o poder dos três ramos de acção política, o executivo, o legislativo e o judicial, para que nenhum deles possa exorbitar e pôr em causa a liberdade dos indivíduos, que é aquilo que está sempre em jogo numa democracia liberal. As novas gerações americanas estão cansadas da democracia. A atracção dos jovens pelo autoritarismo é uma tendência geral das democracias, incluindo a portuguesa. Haverá múltiplas causas para este fenómeno. Deixo de lado as que parecem mais óbvias. Centro-me em duas. A insipidez da democracia e o peso da liberdade.

Os regimes democráticos não propõem aventuras colectivas, não apresentam grandes desígnios que mobilizem as pessoas e dêem um sentido à vida. Cada qual tem a liberdade de encontrar um desígnio e um sentido para a sua vida, de a tornar mais sensata ou mais aventurosa, de acordo com a sua consciência. O desígnio das democracias é o de não impor qualquer desígnio às pessoas, deixando-as viver os seus próprios projectos, oferecendo-lhes apenas a aventura da sua própria liberdade. Esta insipidez democrática, contudo, não responde a uma certa pulsão existente nos seres humanos, enquanto jovens, para a aventura colectiva, para mergulhar na massa e deixar-se encantar pelos cantos de sereia dos desígnios colectivos, onde a individualidade se dissolve.

Um segundo motivo é a derrota do Iluminismo. Kant, à pergunta O que é o Iluminismo?, respondeu: “lluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem.” As novas gerações parecem, em parte, já não suportar o peso de serem responsáveis pelo seu destino. A liberdade tornou-se um fardo, porque dá a cada um a responsabilidade pelos seus êxitos e fracassos. Muitos povos evitaram esse fardo e entregaram-se sempre nas mãos de um déspota. Outros, porém, decidiram correr o risco da liberdade política e do regime democrático. Em lado nenhum se viveu melhor do que aí, mas parece que o fardo da liberdade está a ser demasiado pesado para parte das novas gerações. Querem continuar na menoridade e parecem precisar de alguém, um ditador, um déspota, que pense por elas. É isso que desejam e é isso que estão a preparar.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

IV Fanfares

Carlos Botelho, Tejo e a ponte, 1968 (Gulbenkian)

corre no ondular febril das velas

o respirar do vento sobre o rio

nas casas incendeiam-se janelas

onde voraz ânimo gera o frio

 

se digo luz a voz clama

ó noite o fogo te chama

[Quinze poemas sob música de György Ligeti, 2007]

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Ensaio sobre a luz (111)

Maria Beatriz, Vita Brevis (série), 2000 (Gulbenkian)

Raptada da sombra por uma luz difusa, a vida manifesta-se como uma fábula contada a crianças ou como uma história de amor para edificação de corações em turbulência. Vem vestida da exuberância da simplicidade, traz nas mãos a balança da memória e veste-se com o carmesim da brevidade.