Júlio Pomar, Cegos de Madrid, 1957 (Gulbenkian) |
Quando uma época cai a prumo,
como o cisma de uma crença anterior
Rui Cóias
Nunca deixamos de pertencer a uma irmandade tomada pela cegueira. Sempre que nos é solicitado que vejamos, a voz da fraternidade fala mais alto e não avistamos o abismo diante dos olhos. Quem vive num tempo de decadência, numa daquelas eras em que um mundo se fecha e um outro se abre, não sabe que essa hora é decisiva e o que ela tem de excepcional não passa, aos olhos daqueles que a vivem, da mais pura trivialidade. O espanto perante tal metamorfose é sempre posterior, um exercício de uma memória que se reconstrói, para abrir um grande cisma entre o olhar de quem viveu no tempo da queda e da metamorfose e o daqueles que a observam com os olhos de um futuro que ainda não existia.
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