Amadeo de Souza-Cardoso, O príncipe e a matilha, 1912 (Gulbenkian) |
Ter-se-á pensado, num daqueles momentos em que a benevolência da história permite imaginar as mais tresloucadas fantasias, que os homens, todos eles, teriam nascido para príncipes. Não porque todos tivessem uma inclinação para o governo dos seus iguais, mas porque todos se entregariam ao seu autogoverno, fazendo da liberdade o elemento etéreo onde a vida deveria correr. O tempo, porém, é um temível inimigo de sonhos e ilusões. Como uma espada afiada, logo desfaz as mais suaves fantasias e torna manifesto aquilo que, sob elas, se esconde. No lugar de uma assembleia de príncipes, existem rebanhos amorfos. Se se exige muito deles, logo se tornam matilha pronta para devorar tudo onde o odor da liberdade se faça presente.
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