A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Poderá a actual coligação no poder voltar a ganhar as eleições
legislativas? A resposta é sim. Poder-se-á fazer um elenco, quase infinito, das
mentiras eleitorais de Passos Coelho. Poder-se-á elaborar uma lista não pequena
das tropelias e incongruências de Paulo Portas. Poder-se-á passar longas horas
a nomear as maldades políticas que os dois, em conjunto, fizeram aos
portugueses. Tudo isso, porém, pode não ser suficiente para os fazer abandonar
o poder nas próximas eleições.
Um primeiro motivo reside na força da economia paralela. A situação
económica do país é má, mas não tão má quanto a dizem os números oficiais. A
economia paralela parece pujante e tem uma função útil para quem detém o poder.
Diminui o descontentamento de parte da população. Funciona como um analgésico
que, fazendo mal a longo prazo, tem um efeito dissuasor da dor actual.
Uma segunda razão reside nas opções tácticas do PS. Seguro, com uma ou
outra excepção, esteve, no essencial, sempre ao lado das opções do governo.
Raramente tornou claro que, sendo ele governo, alteraria as medidas tomadas
pela coligação no poder. Jogou tudo na autodestruição do governo. Pensou e
pensa que será ele que, perante o descontentamento da população, irá receber o
poder. Poucas são as pessoas, porém, que o vêem como alternativa. Pelo
contrário. Perante o nome de Seguro, os eleitores encolhem os ombros e
exclamam: ”mais do mesmo”.
Uma terceira razão, já aflorada noutras crónicas, reside na não
existência de uma alternativa ao arco governamental com credibilidade. Muita
gente está revoltada, mas não encontra, no espectro partidário, uma alternativa
de governo efectiva. As pessoas olham para o PCP e o BE como partidos de
protesto, podem até votar neles, mas estão convencidas que, para lá da
resistência, não existe uma política para governar o país dentro da actual
situação económica global.
Há ainda uma quarta razão. A coligação no poder tem uma política, tem
um programa definido e uma agenda clara. Precisou de mentir para chegar ao poder.
Agora, porém, não precisa. Executou o seu programa e, sem piedade ou
estremecimentos de consciência, reafirmou-o uma e outra vez. Por muito
desespero que tenha semeado, por muito que possa vir a semear ainda, a
coligação PSD/CDS-PP é a única que tem, aos olhos dos eleitores, uma caminho,
um terrível caminho, mas um caminho para o país. Não digo que vá ganhar as
ganhar as eleições, mas se a esquerda está convencida de que o governo está
derrotado, pode ter uma das maiores surpresas da sua existência. E se
PSD/CDS-PP voltarem a ganhar? Já imaginou?