George Pierre Seurat - A clareira (1882)
Exausto, deixou-se cair. Perdido na floresta, vagueou entre sombras e ameaças de luz. Ouviu o crocitar dos corvos e sentiu o corpo dilacerado abrir-se para aquilo que o esperava. Caminhou dias e noites. Por vezes, anotava tonalidades e gravava na memória os sons que lhe chegavam. Quando descansava, entregava-se a manobras de classificação. Ruídos, cheiros, matizes, tudo lhe servia para criar classes e elaborar estranhas taxionomias. A floresta, porém, resistia e não se deixava prender em redes tão frágeis. À bruma da manhã seguia-se a da tarde e, depois, a da noite. Se o coração vacilava, a mente deixava-se arrastar pela névoa. Quando chegou à clareira, a súbita luz rasgou-lhe a carne e um incêndio consumiu-lhe o corpo. Ainda sussurrou: Quem disse que a luz dá vida?
Na exuberância da floresta, uma clareira só pode significar ausência de vida.
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A luz pode ser mortal.
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